NO CAPÍTULO ANTERIOR...
Casarão de
Antunes – Quarto de Bruno e Felipe – Noite.
Bruno: Eu não vou comer!
[Bruno cospe dentro da marmita.
Antônio dá uma garfada no alimento e tenta fazer Bruno comer]
Bruno: Eu já disse que não quero!
[Antônio abre a boca dele e o faz
comer a força.]
Antônio: Eu só vou sair daqui quando não
tiver mais nenhum grão de arroz aqui dentro. Me ouviu bem?
[Bruno com a boca cheia de comida
deixa rolar uma lágrima pelo rosto]
AGORA...
Casarão de
Antunes – Quarto de Antunes – Noite.
[Felipe
está sentado na cadeira com os braços apoiados sobre a mesa, chorando, Antão
continua a amolar a faca]
Antunes: Hoje,
o destino tirou o dia para nos ironizar... Você leva uma surra de seu irmão e
eu basicamente apanho do demônio. Estranho, não?
Felipe:
Sim, senhor...
[Ele fala
com medo]
Antunes:
Eu conheço esse tipo de garoto assim como você, acredite, não é de hoje que me
aparecem garotos assim: raquítico, magro ao extremo e com o jeito feminino.
[Antunes
senta na cadeira, frente a frente com Felipe e com os braços também apoiados na
mesa segurando a faca]
Antunes:
Eu quero fazer de você o maior matador que esse Brasil já viu. Um assassino de
primeira... Diferente de tudo, eu sei que você tem potencial, e não estou
falando isso por vista não, vejo nos seus olhos.
[Antônio
abre a porta do quarto]
Antônio:
Antão, o que eu faço com o pirralho?
Antunes:
Eu acho que aquele lá não tem muito que aproveitar não. Pode joga-lo no
porão...
[Antônio se
assusta]
Antônio: No
porão? Mas Antão, os cachorros não comem tem quatro dias... O garoto não vai
sair vivo de lá.
Antunes:
Não importa. Isso é uma ordem, além do mais os cachorros precisam de alimento e
aquela peste é infernizada demais, nos dará trabalho em dobro. Sem mais
delongas, jogue para os cachorros.
Antônio:
Sim senhor.
[Felipe
arregala os olhos, assustado. O vento invade o quarto pela janela, levantando
as cortinas. Felipe observa que a janela está aberta.]
Antunes:
Não pense que será fácil, garoto... Na vida nada é fácil. [Antunes pega a faca e coloca em cima da mesa] Temos que ser como
essa faca, ser bem usada, afiada a todo o momento e pronta para o uso.
[Felipe
rapidamente pega a faca em cima da mesa e com força a finca na mão de Antunes,
fazendo-o ficar com a mão presa na mesa. Ele grita.]
Antunes:
Aaaaaaah! Cachorro! Aaaaah!
[Felipe
pega a cadeira em que estava sentado, a joga pela janela e pula logo em
seguida. Antunes olha para a faca fincada em sua mão, cria coragem e a puxa com
força. Ele grita mais alto.]
Antunes:
Aaaaaaaah! Filho do cão!
[Antônio
abre a porta correndo]
Antônio:
Antão? O que houve?
[Antunes
pressiona a mão cortada sobe a barriga]
Antunes:
Aquele moleque desgraçado, filho duma égua.
Antônio:
E cadê ele?
Antunes:
Fugiu! Fugiu! Vai logo atrás dele caralho!
[Antônio
sai correndo pela porta]
Casarão de
Antunes –Noite – Pátio.
[Do lado de fora, Felipe corre segurando
a cadeira, não há nenhum adolescente do lado de fora. Um capanga de Antunes
passa e Felipe se esconde. Os muros que cercam o casarão são todos grandes,
Felipe apoia uma cadeira no muro e sobe. Antônio, acompanhado de dois capangas
o vê de longe e grita.]
Antônio: Peguem ele! Peguem!
[Eles correm atrás de Felipe.
Felipe pula o muro e acaba se arranhando mais, devido ao arame farpado em cima
do muro. Os dois capangas também pulam o muro, Antônio abre o portão e sai
também.]
Casarão de
Antunes – Quarto de Bruno e Felipe – Noite.
[Bruno está
deitado no colchão, passando mal devido a Antônio obriga-lo a comer à força. Um
capanga de Antunes – Marques - entra e fecha a porta.]
Marques:
E então garoto, firmeza?
[Bruno
tenta se levantar]
Bruno:
Quem é você?
Marques:
Trabalho para o Seu Antão.
Bruno:
Cadê meu irmão?
Marques:
Eu não sei... Estou aqui apenas para cumprir ordens.
Bruno:
E o que quer?
Marques:
Bem, me mandaram levar você para o porão.
[Bruno se
assusta]
Bruno:
Porão? Que porão é esse?
[Marques engole
seco]
Marques:
Lá, o Seu Antão vai conversar com você e sempre que as crianças vão para lá são
liberadas.
[Bruno se
anima]
Bruno:
Sério? Então vamos logo! Será que o Felipe também foi liberado?
Marques:
Creio eu que sim...
Bruno:
Não estou acreditando!
[Bruno
abraça Marques. Marques começa a chorar disfarçadamente ao pensar que mentiu
para Bruno.]
Casarão de
Antunes –Noite – Lado de fora.
[Felipe
corre floresta à dentro fugindo. Antônio e dois capangas correm seguindo
Felipe, até que eles o perdem de vista.]
Antônio:
Desgraçado duma figa! Se eu pego aquele moleque eu mato ele... Não podemos
chegar ao abrigo sem esse traste, o Antão nos mata vivos. Separem cada um para
um lado.
[Eles se
separam e continuam a busca]
Casarão de
Antunes –Noite – Corredores.
[Marques –
o capanga – e Bruno chegam até a porta do porão.]
Bruno:
É aqui?
Marques:
Sim... Eu vou levantar a porta, você desce as escadas e acende a luz, o
apagador fica do lado esquerdo.
Bruno:
Você não vai entrar?
Marques:
Não, o Seu Antão não gosta de contato com criados.
Bruno:
Entendo...
[Marques
abre a porta, Bruno entra, vai descendo as escadas com a mão na parede, ele
acende a luz e se assusta. Três grandes dobermanns – raça de cachorro – estão
olhando frente a frente com ele, rangendo os dentes famintos de fome. Bruno
perde a voz de nervosismo.]
Bruno:
A-ah, meu Deus!
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