16 de fevereiro de 2013

Capítulo 18 - Doce Urbano

 


NO CAPÍTULO ANTERIOR...
Casarão de Antunes – Quarto de Bruno e Felipe – Noite.
Bruno: Eu não vou comer!
[Bruno cospe dentro da marmita. Antônio dá uma garfada no alimento e tenta fazer Bruno comer]
Bruno: Eu já disse que não quero!
[Antônio abre a boca dele e o faz comer a força.]
Antônio: Eu só vou sair daqui quando não tiver mais nenhum grão de arroz aqui dentro. Me ouviu bem?
[Bruno com a boca cheia de comida deixa rolar uma lágrima pelo rosto]

AGORA...
Casarão de Antunes – Quarto de Antunes – Noite.
[Felipe está sentado na cadeira com os braços apoiados sobre a mesa, chorando, Antão continua a amolar a faca]
Antunes: Hoje, o destino tirou o dia para nos ironizar... Você leva uma surra de seu irmão e eu basicamente apanho do demônio. Estranho, não?
Felipe: Sim, senhor...
[Ele fala com medo]
Antunes: Eu conheço esse tipo de garoto assim como você, acredite, não é de hoje que me aparecem garotos assim: raquítico, magro ao extremo e com o jeito feminino.
[Antunes senta na cadeira, frente a frente com Felipe e com os braços também apoiados na mesa segurando a faca]
Antunes: Eu quero fazer de você o maior matador que esse Brasil já viu. Um assassino de primeira... Diferente de tudo, eu sei que você tem potencial, e não estou falando isso por vista não, vejo nos seus olhos.
[Antônio abre a porta do quarto]
Antônio: Antão, o que eu faço com o pirralho?
Antunes: Eu acho que aquele lá não tem muito que aproveitar não. Pode joga-lo no porão...
[Antônio se assusta]
Antônio: No porão? Mas Antão, os cachorros não comem tem quatro dias... O garoto não vai sair vivo de lá.
Antunes: Não importa. Isso é uma ordem, além do mais os cachorros precisam de alimento e aquela peste é infernizada demais, nos dará trabalho em dobro. Sem mais delongas, jogue para os cachorros.
Antônio: Sim senhor.
[Felipe arregala os olhos, assustado. O vento invade o quarto pela janela, levantando as cortinas. Felipe observa que a janela está aberta.]
Antunes: Não pense que será fácil, garoto... Na vida nada é fácil. [Antunes pega a faca e coloca em cima da mesa] Temos que ser como essa faca, ser bem usada, afiada a todo o momento e pronta para o uso.
[Felipe rapidamente pega a faca em cima da mesa e com força a finca na mão de Antunes, fazendo-o ficar com a mão presa na mesa. Ele grita.]
Antunes: Aaaaaaah! Cachorro! Aaaaah!
[Felipe pega a cadeira em que estava sentado, a joga pela janela e pula logo em seguida. Antunes olha para a faca fincada em sua mão, cria coragem e a puxa com força. Ele grita mais alto.]
Antunes: Aaaaaaaah! Filho do cão!
[Antônio abre a porta correndo]
Antônio: Antão? O que houve?
[Antunes pressiona a mão cortada sobe a barriga]
Antunes: Aquele moleque desgraçado, filho duma égua.
Antônio: E cadê ele?
Antunes: Fugiu! Fugiu! Vai logo atrás dele caralho!
[Antônio sai correndo pela porta]


Casarão de Antunes –Noite – Pátio.
[Do lado de fora, Felipe corre segurando a cadeira, não há nenhum adolescente do lado de fora. Um capanga de Antunes passa e Felipe se esconde. Os muros que cercam o casarão são todos grandes, Felipe apoia uma cadeira no muro e sobe. Antônio, acompanhado de dois capangas o vê de longe e grita.]
Antônio: Peguem ele! Peguem!
[Eles correm atrás de Felipe. Felipe pula o muro e acaba se arranhando mais, devido ao arame farpado em cima do muro. Os dois capangas também pulam o muro, Antônio abre o portão e sai também.]

Casarão de Antunes – Quarto de Bruno e Felipe – Noite.
[Bruno está deitado no colchão, passando mal devido a Antônio obriga-lo a comer à força. Um capanga de Antunes – Marques - entra e fecha a porta.]
Marques: E então garoto, firmeza?
[Bruno tenta se levantar]
Bruno: Quem é você?
Marques: Trabalho para o Seu Antão.
Bruno: Cadê meu irmão?
Marques: Eu não sei... Estou aqui apenas para cumprir ordens.
Bruno: E o que quer?
Marques: Bem, me mandaram levar você para o porão.
[Bruno se assusta]
Bruno: Porão? Que porão é esse?
[Marques engole seco]
Marques: Lá, o Seu Antão vai conversar com você e sempre que as crianças vão para lá são liberadas.
[Bruno se anima]
Bruno: Sério? Então vamos logo! Será que o Felipe também foi liberado?
Marques: Creio eu que sim...
Bruno: Não estou acreditando!
[Bruno abraça Marques. Marques começa a chorar disfarçadamente ao pensar que mentiu para Bruno.]

Casarão de Antunes –Noite – Lado de fora.
[Felipe corre floresta à dentro fugindo. Antônio e dois capangas correm seguindo Felipe, até que eles o perdem de vista.]
Antônio: Desgraçado duma figa! Se eu pego aquele moleque eu mato ele... Não podemos chegar ao abrigo sem esse traste, o Antão nos mata vivos. Separem cada um para um lado.
[Eles se separam e continuam a busca]

Casarão de Antunes –Noite – Corredores.
[Marques – o capanga – e Bruno chegam até a porta do porão.]
Bruno: É aqui?
Marques: Sim... Eu vou levantar a porta, você desce as escadas e acende a luz, o apagador fica do lado esquerdo.
Bruno: Você não vai entrar?
Marques: Não, o Seu Antão não gosta de contato com criados.
Bruno: Entendo...
[Marques abre a porta, Bruno entra, vai descendo as escadas com a mão na parede, ele acende a luz e se assusta. Três grandes dobermanns – raça de cachorro – estão olhando frente a frente com ele, rangendo os dentes famintos de fome. Bruno perde a voz de nervosismo.]
Bruno: A-ah, meu Deus!


Licença Creative Commons

Nenhum comentário:

Postar um comentário