NO CAPÍTULO ANTERIOR...
Matagal –
Casarão de Antunes – Anoitecendo.
[Antunes
entra no pátio do casarão, todos os adolescentes o olham espantado, ele entra e
já encontra Antônio.]
Antônio:
Antão? O que foi cara? Quem te bateu?
Antão:
O capeta Antônio. O capeta! Não tá vendo?
AGORA...
Matagal –
Casarão de Antunes – Anoitecendo.
Antonio: O capeta? O bichão? O demônio
mesmo?!
Antão: E você conhece outro Antonio?
[Antonio vai sacando a arma]
Antonio: Isso deve ser alguma emboscada de
algum palhaço que eu vou rachar a cara.
[Antunes fala colocando a mão nas
feridas]
Antunes: Não! Esquece isso... Eu vou tomar
um banho e ficar no quarto, caso aconteça algo me avise. O reboque trará o
carro mais tarde...
Antonio: Sim, senhor.
Hospital Scott
L. – Quarto de Zumira – Noite.
[Neide
entra no quarto de Zumira e a encontra chorando, ela preocupa]
Neide: Amiga,
o que foi? Aconteceu alguma coisa?
[Zumira
tapa os olhos com as mãos]
Neide:
O que houve?
Zumira:
Minha vida Neide... Desgraçou tudo! Tudo! Não tenho casa, não tenho família.
Vou viver à Deus dará?
Neide:
Calma Zumira, você não pode desesperar.
Zumira:
Você diz isso por que não é você que pôs tudo a perder, que saiu de casa com o
propósito de melhor a condição de vida da sua família e ao voltar encontra
tudo, tudo levado embora.
Neide:
Olha, eu tenho uma notícia para te dar. Acho que te animará...
[Ela
levanta o rosto]
Neide:
Consegui ligar para duas emissoras, não são as melhores mas garantiram que
mandarão repórteres aqui. Eu tive que fazer um barraco, prometer que o babado
era forte.
Zumira:
Ah, meu Deus... Sério mesmo?
Neide:
Sério! Você não queria? Pois bem... Espero que o que você tenha para falar seja
uma bomba.
Zumira:
Pode ter certeza, é uma revelação bombástica!
Casarão de
Antunes – Quarto de Felipe e Bruno – Noite.
[Bruno e
Felipe estão trancados no quarto, entediados. Bruno está deitado no colchão no
chão e Felipe escorado na parede. Ninguém conversa. Antônio abre a porta.]
Antonio: Como
vai a molecada? [Ele percebe o desanimo
no rosto dos garotos] Que cara feia é essa? Parece até que mataram dez e
deixaram vinte escapar. [Ninguém
responde. Ele pega uma marmita e coloca no chão junto com dois garfos.] Pronto,
o rango tá na mesa! Vê se não brigam por causa da marmita...
[Ele sai e
tranca a porta. Felipe conversa com Bruno.]
Felipe:
Eu não posso ficar nessa desgraça Bruno, não sabemos o que vão fazer com a
gente.
Bruno:
Não tem como Felipe. Não viu que estamos trancados?
Felipe:
Eu sei! Mas tem que haver algum jeito.
[Bruno fica
eufórico]
Bruno:
Não tem! Já disse que não tem! Estamos presos, mortos! Cai na real Felipe.
Mortos!
[Felipe
chuta a marmita]
Felipe:
Não! Nunca! Eu vou sair daqui!
Bruno:
Ah, vai? Me fala como?
[Felipe
agacha pega o garfo e começa a rasgar a roupa com o garfo e a se arranhar.
Bruno tenta impedir.]
Bruno:
O que é isso Felipe? Para com isso!
Felipe:
Não trisca em mim, sai!
Bruno:
Você tá se machucando.
[Felipe
para, já todo arranhado e com a roupa toda rasgada, ele joga o garfo no chão e
começa a chorar.]
Bruno:
O que você vai fazer? Ficou doido?
Felipe:
Me desculpa... Eu preciso...
Bruno:
Do que você está falando?
[Felipe
começa a gritar por Antônio]
Felipe:
Socorro! Me ajudem! Me solta Bruno! Aaaaaaaaah! Eu vou morrer, me solta!
[Bruno fica
sem entender]
Bruno:
Para com isso Felipe.
[Felipe
continua gritando]
Felipe:
Me ajudem! Ele está me matando!
[Antônio
abre a porta rapidamente e Felipe se auto joga no chão, dando a entender que
Bruno o havia empurrado. Antônio vê Felipe todo ferido.]
Antônio:
Que desgraça é essa aqui?
Felipe:
Esse infeliz, esse monstro do meu irmão... Ele... Ele tentou me matar!
Bruno: Ficou
doido Felipe? Que mentira é essa?
Antônio: Como
é que é?
Felipe:
Ele disse que se me matasse vocês o deixariam ir embora.
Antônio:
Como você pode ser tão frio, com seu próprio irmão? Canalha!
[Antônio dá
um soco no rosto de Bruno que cai no chão. Antônio puxa Felipe pelo braço.]
Felipe:
Aonde você vai me levar?
Antônio:
Cala a boca e venha quieto!
[Antônio
tranca a porta do quarto deixando Bruno sozinho]
Casarão de
Antunes – Quarto de Antunes – Noite.
[Antunes está em um quarto pequeno
com apenas uma cama e uma mesa pequena com duas cadeiras e uma enorme janela,
apenas de calça, sem camisa e com uma toalha apoiada no ombro. Ele amola uma
faca. Antônio abre a porta do quarto e entra puxando Felipe pelos cabelos, ele
o joga no chão, Antunes se assusta.]
Antunes: O que é isso Antônio? Deu pra
baixar o demônio agora?
Antônio: O senhor vai ter que dar um jeito
nesse daí...
Antunes: O que houve?
Antônio: O irmão começou estrangula-lo no
quarto onde estavam, queria por tudo mata-lo e começou uma gritaria do cão.
Antunes: E porque não o colocou em um
quarto separado?
Antônio: Todos os quartos estão ocupados,
senhor.
Antunes: Cada uma que me aparece... Então
sai daqui, nos deixe sozinho.
[Antônio sai. Felipe ainda está no
chão, Antunes fixa o olhar nele.]
Antunes: Agora somos apenas eu e você.
Sente-se, temos muito a conversar.
Casarão de Antunes – Quarto de Bruno e Felipe
– Noite.
[Bruno está deitado no colchão e
chora sem parar]
Bruno: Porque Felipe? Porque você fez
isso? Meu irmão... [Ele chora
insensatamente. Antônio abre a porta do quarto e vê Bruno chorando.]
Antônio: Mais que falsidade hein!? O Antão
tinha era que botar fogo em você.
Bruno: Você não me conhece, não sabe o
que eu estou passando...
[Antônio pega a marmita do chão e
o garfo.]
Antônio: Pega essa marmita e coma tudo,
tudo. Aqui ninguém estrói alimento.
Bruno: Eu não tenho fome...
Antônio: Eu não perguntei o que você
tem... Isso é uma ordem!
Bruno: Eu não vou comer!
[Bruno cospe dentro da marmita.
Antônio dá uma garfada no alimento e tenta fazer Bruno comer]
Bruno: Eu já disse que não quero!
[Antônio abre a boca dele e o faz
comer a força.]
Antônio: Eu só vou sair daqui quando não
tiver mais nenhum grão de arroz aqui dentro. Me ouviu bem?
[Bruno com a boca cheia de comida
deixa rolar uma lágrima pelo rosto]
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