15 de fevereiro de 2013

Capítulo 17 - Doce Urbano

 


NO CAPÍTULO ANTERIOR...
Matagal – Casarão de Antunes – Anoitecendo.
[Antunes entra no pátio do casarão, todos os adolescentes o olham espantado, ele entra e já encontra Antônio.]
Antônio: Antão? O que foi cara? Quem te bateu?
Antão: O capeta Antônio. O capeta! Não tá vendo?

AGORA...
Matagal – Casarão de Antunes – Anoitecendo.
Antonio: O capeta? O bichão? O demônio mesmo?!
Antão: E você conhece outro Antonio?
[Antonio vai sacando a arma]
Antonio: Isso deve ser alguma emboscada de algum palhaço que eu vou rachar a cara.
[Antunes fala colocando a mão nas feridas]
Antunes: Não! Esquece isso... Eu vou tomar um banho e ficar no quarto, caso aconteça algo me avise. O reboque trará o carro mais tarde...
Antonio: Sim, senhor.


Hospital Scott L. – Quarto de Zumira – Noite.
[Neide entra no quarto de Zumira e a encontra chorando, ela preocupa]
Neide: Amiga, o que foi? Aconteceu alguma coisa?
[Zumira tapa os olhos com as mãos]
Neide: O que houve?
Zumira: Minha vida Neide... Desgraçou tudo! Tudo! Não tenho casa, não tenho família. Vou viver à Deus dará?
Neide: Calma Zumira, você não pode desesperar.
Zumira: Você diz isso por que não é você que pôs tudo a perder, que saiu de casa com o propósito de melhor a condição de vida da sua família e ao voltar encontra tudo, tudo levado embora.
Neide: Olha, eu tenho uma notícia para te dar. Acho que te animará...
[Ela levanta o rosto]
Neide: Consegui ligar para duas emissoras, não são as melhores mas garantiram que mandarão repórteres aqui. Eu tive que fazer um barraco, prometer que o babado era forte.
Zumira: Ah, meu Deus... Sério mesmo?
Neide: Sério! Você não queria? Pois bem... Espero que o que você tenha para falar seja uma bomba.
Zumira: Pode ter certeza, é uma revelação bombástica!

Casarão de Antunes – Quarto de Felipe e Bruno – Noite.
[Bruno e Felipe estão trancados no quarto, entediados. Bruno está deitado no colchão no chão e Felipe escorado na parede. Ninguém conversa. Antônio abre a porta.]
Antonio: Como vai a molecada? [Ele percebe o desanimo no rosto dos garotos] Que cara feia é essa? Parece até que mataram dez e deixaram vinte escapar. [Ninguém responde. Ele pega uma marmita e coloca no chão junto com dois garfos.] Pronto, o rango tá na mesa! Vê se não brigam por causa da marmita...
[Ele sai e tranca a porta. Felipe conversa com Bruno.]
Felipe: Eu não posso ficar nessa desgraça Bruno, não sabemos o que vão fazer com a gente.
Bruno: Não tem como Felipe. Não viu que estamos trancados?
Felipe: Eu sei! Mas tem que haver algum jeito.
[Bruno fica eufórico]
Bruno: Não tem! Já disse que não tem! Estamos presos, mortos! Cai na real Felipe. Mortos!
[Felipe chuta a marmita]
Felipe: Não! Nunca! Eu vou sair daqui!
Bruno: Ah, vai? Me fala como?
[Felipe agacha pega o garfo e começa a rasgar a roupa com o garfo e a se arranhar. Bruno tenta impedir.]
Bruno: O que é isso Felipe? Para com isso!
Felipe: Não trisca em mim, sai!
Bruno: Você tá se machucando.
[Felipe para, já todo arranhado e com a roupa toda rasgada, ele joga o garfo no chão e começa a chorar.]
Bruno: O que você vai fazer? Ficou doido?
Felipe: Me desculpa... Eu preciso...
Bruno: Do que você está falando?
[Felipe começa a gritar por Antônio]
Felipe: Socorro! Me ajudem! Me solta Bruno! Aaaaaaaaah! Eu vou morrer, me solta!
[Bruno fica sem entender]
Bruno: Para com isso Felipe.
[Felipe continua gritando]
Felipe: Me ajudem! Ele está me matando!
[Antônio abre a porta rapidamente e Felipe se auto joga no chão, dando a entender que Bruno o havia empurrado. Antônio vê Felipe todo ferido.]
Antônio: Que desgraça é essa aqui?
Felipe: Esse infeliz, esse monstro do meu irmão... Ele... Ele tentou me matar!
Bruno: Ficou doido Felipe? Que mentira é essa?
Antônio: Como é que é?
Felipe: Ele disse que se me matasse vocês o deixariam ir embora.
Antônio: Como você pode ser tão frio, com seu próprio irmão? Canalha!
[Antônio dá um soco no rosto de Bruno que cai no chão. Antônio puxa Felipe pelo braço.]
Felipe: Aonde você vai me levar?
Antônio: Cala a boca e venha quieto!
[Antônio tranca a porta do quarto deixando Bruno sozinho]

Casarão de Antunes – Quarto de Antunes – Noite.
[Antunes está em um quarto pequeno com apenas uma cama e uma mesa pequena com duas cadeiras e uma enorme janela, apenas de calça, sem camisa e com uma toalha apoiada no ombro. Ele amola uma faca. Antônio abre a porta do quarto e entra puxando Felipe pelos cabelos, ele o joga no chão, Antunes se assusta.]
Antunes: O que é isso Antônio? Deu pra baixar o demônio agora?
Antônio: O senhor vai ter que dar um jeito nesse daí...
Antunes: O que houve?
Antônio: O irmão começou estrangula-lo no quarto onde estavam, queria por tudo mata-lo e começou uma gritaria do cão.
Antunes: E porque não o colocou em um quarto separado?
Antônio: Todos os quartos estão ocupados, senhor.
Antunes: Cada uma que me aparece... Então sai daqui, nos deixe sozinho.
[Antônio sai. Felipe ainda está no chão, Antunes fixa o olhar nele.]
Antunes: Agora somos apenas eu e você. Sente-se, temos muito a conversar.

 Casarão de Antunes – Quarto de Bruno e Felipe – Noite.
[Bruno está deitado no colchão e chora sem parar]
Bruno: Porque Felipe? Porque você fez isso? Meu irmão... [Ele chora insensatamente. Antônio abre a porta do quarto e vê Bruno chorando.]
Antônio: Mais que falsidade hein!? O Antão tinha era que botar fogo em você.
Bruno: Você não me conhece, não sabe o que eu estou passando...
[Antônio pega a marmita do chão e o garfo.]
Antônio: Pega essa marmita e coma tudo, tudo. Aqui ninguém estrói alimento.
Bruno: Eu não tenho fome...
Antônio: Eu não perguntei o que você tem... Isso é uma ordem!
Bruno: Eu não vou comer!
[Bruno cospe dentro da marmita. Antônio dá uma garfada no alimento e tenta fazer Bruno comer]
Bruno: Eu já disse que não quero!
[Antônio abre a boca dele e o faz comer a força.]
Antônio: Eu só vou sair daqui quando não tiver mais nenhum grão de arroz aqui dentro. Me ouviu bem?
[Bruno com a boca cheia de comida deixa rolar uma lágrima pelo rosto]



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