11 de fevereiro de 2013

Capítulo 13 - Doce Urbano

 


NO CAPÍTULO ANTERIOR...
Circo La Mustafá – Madrugada.
Felipe: O irmão da Giuliane simplesmente desapareceu do circo depois de alguns meses que a mãe morreu, ele tinha quase a nossa idade. O que você deduz com isso?
Bruno: Espera aí... [Bruno fica pensativo] Tem certeza que é isso que eu estou pensando?
Felipe: Óbvio! Aquele monstro do Seu Leôncio vai nos vender como vendeu o próprio filho.
[Leôncio sai de detrás de uma das cortinas do camarim de onde escutava a conversa, com uma cara maliciosa]
Leôncio: Posso participar da conversa, rapazes?
[Eles se assustam]

AGORA...
Circo La Mustafá – Madrugada.
[Felipe e Bruno ficam paralisados]
Leôncio: Eu fiz uma pergunta. Não vão me responder não? Ou será que não me ouviram?
[Bruno e Felipe se entreolham esperando quem se interferirá]
[Giuliane chega no exato momento e interfere]
Giuliane: Não pai! Por favor, não faça nada com eles.
[Ela os puxa para perto de si]
Giuliane: Eles são apenas crianças... Não tem culpa do que dizem.
[Leôncio dá um tapa no rosto de Giuliane e começa a conversar em alto tom]
Leôncio: Vadia! Traidora! Como você pode acobertar esses pirralhos e ir contra a palavra do seu próprio pai?
Giuliane: Pai? Pai? [Ela da uma risada] Você tem a capacidade de se intitular meu pai? [Ela ri novamente] Você não passa de um velho gordo, nojento, orgulhoso e aproveitador de crianças. Pedófilo! Psicopata!
[Ele dá outro tapa no rosto dela]
Leôncio: Modere as suas palavras para falar comigo! Eu ainda sou seu pai! Desnaturada!
Giuliane: Não! Desnaturada não! Sabe o que eu sou? Malcriada! Isso que eu sou! Porque nem me criar direito você sabe, você é inútil, imprestável.
[Os funcionários do circo ouvem a discussão, levantam e vão se aproximando para verem a discussão]
Giuliane: Por que você não revela pra todo mundo o verdadeiro Leôncio que existe dentro de você? O gordo psicopata? [Ele fica sem reação e ela continua gritando] Se aproximem todos! Aproximem! Ouçam a real história desse bom velhinho que se diz dono de circo e que na verdade paga os funcionários com dinheiro da venda de crianças.
[Os funcionários ali presentes se espantam e começam a cochichar entre si]
Giuliane: E então? Não vai dar a sua versão não? Ou será que eu estou mentindo? Hein?!
[Leôncio fica eufórico]
Leôncio: Chega! Acabou a palhaçada! [Ele puxa Felipe e Bruno e os segura pelo braço fortemente] Faça o que quiser. Se rebele! Essas crianças, eu venderei! [Ele leva Felipe e Bruno pelo braço. Giuliane implora.]
Giuliane: Não pai! Para com isso! Para!
Leôncio: Vou tranca-los na antiga jaula até que o comprador apareça. E eu quero ver quem vai ser o macho que vai tira-los de lá sem a minha permissão, quem ousa me desobedecer.
[Ele os leva para a jaula. Giuliane ajoelha no chão chorando, cercada de pessoas]


Rio de Janeiro - Rua – Amanhecendo.
[Por volta das seis da manhã, Zumira está deitada no chão, baleada, esperando por alguém que a socorra, ela não consegue nem se mover. Um homem que passa de bicicleta a avista no chão, ele desce da bicicleta e se aproxima.]
Homem: Meu Deus! Senhora, o que aconteceu?
[Ela não consegue responder]
Homem: Pode me ouvir? Ai meu Deus! O que eu faço?
[Ele tira a camisa de manga longa, rasga e pressiona sobre o ferimento]
Homem: Isso deve estancar o sangue até o socorro chegar. Aguenta senhora, aguenta!
[Ele pega o telefone e liga para a emergência. Encontra a bolsa de Zumira jogada ali perto, ele pega e encontra documentos com o nome dela, um deles tem o endereço do aterro onde ela mora, ele coloca tudo dentro da bolsa e deixa no chão novamente.]
Homem: Tenho que avisar alguém sobre isso.
[Ele pega a bicicleta e sai novamente]

Circo La Mustafá – Manhã.
[Giuliane conversa sozinha no palco do circo, nervosa]
Giuliane: Desgraçado... Como pode existir pessoas tão frias e sem coração desse jeito? [Ela senta em um tamborete, pensativa] Não posso deixa-lo fazer essas peripécias com crianças, não enquanto eu estiver viva. E só há duas alternativas: ou eu morro, ou ele morre. E eu não estou nenhum pouco a fim de morrer!

Circo La Mustafá – Jaula – Manhã.
[Felipe e Bruno estão presos dentro de uma jaula]
Bruno: Você devia ter me escutado Felipe, se tivéssemos ido embora quando eu te avisei, nada disso teria acontecido e ainda dava tempo de avisar à mãe.
Felipe: A culpa não é minha! Eu não adivinharia que ele poderia nos escutar. Além do mais, a Giuliane sabe de toda a história, eu tenho certeza que ela vai nos tirar daqui.
Bruno: Me explica como? Não viu que o Leôncio guardou a chave? Todo mundo aqui é cúmplice dele Felipe, inclusive a Giuliane, ele faz isso pra ganhar dinheiro, e quem não gosta de dinheiro? Por isso que ninguém dispôs a ajudar.
Felipe: Tem razão... Aquele monte de gente nos olhando aguentar humilhação e ninguém teve coragem de ajudar.
Bruno: O jeito agora é esperar pra ver como vamos sobreviver quando formos vendidos e pra quem seremos vendidos.
[Eles se olham preocupados]

Hospital Scott L. – Quarto de Zumira - Manhã.
[Zumira está cercada de aparelhos engatados a seu corpo. Neide entra no quarto acompanhada do médico. Neide segura na mão de Zumira.]
Neide: Ah, minha amiga... Se você soubesse o quanto é ruim te ver nesse estado, te ver assim.
Médico: Não se preocupe, a bala não conseguiu se alojar profundamente, apenas o susto foi grande demais e abalou alguns órgãos. O cirurgião clinico e a equipe médica encontraram algumas dificuldades em retirar a bala, mas tudo ocorreu bem.
Neide: E o senhor tem ideia de quanto ficará o tratamento?
Médico: Pra dizer a verdade, não. Mas eu tenho certeza que, por verem a situação financeira de vocês, eles farão um bom preço.
Neide: Eu espero... Dentro de quantos dias ela terá alta?
Médico: Duas semanas no máximo. Assim que ela conseguir se comunicar perfeitamente conosco o delegado virá aqui fazer algumas perguntas a ela. Não temos permissão de libera-la antes disso.
Neide: Entendo... Só não conseguir me conformar em pensar quem faria tamanha barbaridade com uma pessoa tão humilde, tão batalhadora.

Circo La Mustafá - Manhã.
[Uma caminhonete carregada de laranja para em frente ao circo. Antunes e Antonio descem.]
Antunes: Ora, ora, ora! Não é que a fubica é bem arranjada mesmo? [Ele tira o óculos escuro para ver melhor] O que me diz Antonio? Não é um ótimo cenário? Tente ligar as ideias: criança, compra e venda. Pra que lugar melhor para atrair crianças do que um circo? [Ele e Antonio riem alto]

[Giuliane está escondida vendo Antunes e Antônio, ela conversa sozinha]
Giuliane: É hoje que esse circo pega fogo, e eu quero ver esse bando de palhaços morrerem queimados!




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