
NO CAPÍTULO ANTERIOR...
Circo La
Mustafá – Madrugada.
Felipe:
O irmão da Giuliane simplesmente desapareceu do circo depois de alguns meses
que a mãe morreu, ele tinha quase a nossa idade. O que você deduz com isso?
Bruno:
Espera aí... [Bruno fica pensativo]
Tem certeza que é isso que eu estou pensando?
Felipe:
Óbvio! Aquele monstro do Seu Leôncio vai nos vender como vendeu o próprio
filho.
[Leôncio
sai de detrás de uma das cortinas do camarim de onde escutava a conversa, com
uma cara maliciosa]
Leôncio:
Posso participar da conversa, rapazes?
[Eles se
assustam]
AGORA...
Circo La
Mustafá – Madrugada.
[Felipe e
Bruno ficam paralisados]
Leôncio:
Eu fiz uma pergunta. Não vão me responder não? Ou será que não me ouviram?
[Bruno e
Felipe se entreolham esperando quem se interferirá]
[Giuliane
chega no exato momento e interfere]
Giuliane: Não
pai! Por favor, não faça nada com eles.
[Ela os
puxa para perto de si]
Giuliane:
Eles são apenas crianças... Não tem culpa do que dizem.
[Leôncio dá
um tapa no rosto de Giuliane e começa a conversar em alto tom]
Leôncio:
Vadia! Traidora! Como você pode acobertar esses pirralhos e ir contra a palavra
do seu próprio pai?
Giuliane:
Pai? Pai? [Ela da uma risada] Você
tem a capacidade de se intitular meu pai?
[Ela ri novamente] Você não passa de um velho gordo, nojento, orgulhoso e
aproveitador de crianças. Pedófilo! Psicopata!
[Ele dá
outro tapa no rosto dela]
Leôncio:
Modere as suas palavras para falar comigo! Eu ainda sou seu pai! Desnaturada!
Giuliane:
Não! Desnaturada não! Sabe o que eu sou? Malcriada! Isso que eu sou! Porque nem
me criar direito você sabe, você é inútil, imprestável.
[Os
funcionários do circo ouvem a discussão, levantam e vão se aproximando para
verem a discussão]
Giuliane:
Por que você não revela pra todo mundo o verdadeiro Leôncio que existe dentro
de você? O gordo psicopata? [Ele fica
sem reação e ela continua gritando] Se aproximem todos! Aproximem! Ouçam a
real história desse bom velhinho que se diz dono de circo e que na verdade paga
os funcionários com dinheiro da venda de crianças.
[Os
funcionários ali presentes se espantam e começam a cochichar entre si]
Giuliane:
E então? Não vai dar a sua versão não? Ou será que eu estou mentindo? Hein?!
[Leôncio
fica eufórico]
Leôncio:
Chega! Acabou a palhaçada! [Ele puxa
Felipe e Bruno e os segura pelo braço fortemente] Faça o que quiser. Se
rebele! Essas crianças, eu venderei! [Ele
leva Felipe e Bruno pelo braço. Giuliane implora.]
Giuliane:
Não pai! Para com isso! Para!
Leôncio:
Vou tranca-los na antiga jaula até que o comprador apareça. E eu quero ver quem
vai ser o macho que vai tira-los de lá sem a minha permissão, quem ousa me
desobedecer.
[Ele os
leva para a jaula. Giuliane ajoelha no chão chorando, cercada de pessoas]
Rio de Janeiro
- Rua – Amanhecendo.
[Por volta
das seis da manhã, Zumira está deitada no chão, baleada, esperando por alguém
que a socorra, ela não consegue nem se mover. Um homem que passa de bicicleta a
avista no chão, ele desce da bicicleta e se aproxima.]
Homem:
Meu Deus! Senhora, o que aconteceu?
[Ela não
consegue responder]
Homem: Pode
me ouvir? Ai meu Deus! O que eu faço?
[Ele tira a
camisa de manga longa, rasga e pressiona sobre o ferimento]
Homem:
Isso deve estancar o sangue até o socorro chegar. Aguenta senhora, aguenta!
[Ele pega o
telefone e liga para a emergência. Encontra a bolsa de Zumira jogada ali perto,
ele pega e encontra documentos com o nome dela, um deles tem o endereço do
aterro onde ela mora, ele coloca tudo dentro da bolsa e deixa no chão
novamente.]
Homem: Tenho
que avisar alguém sobre isso.
[Ele pega a
bicicleta e sai novamente]
Circo La
Mustafá – Manhã.
[Giuliane
conversa sozinha no palco do circo, nervosa]
Giuliane: Desgraçado...
Como pode existir pessoas tão frias e sem coração desse jeito? [Ela senta em um tamborete, pensativa]
Não posso deixa-lo fazer essas peripécias com crianças, não enquanto eu estiver
viva. E só há duas alternativas: ou eu morro, ou ele morre. E eu não estou
nenhum pouco a fim de morrer!
Circo La
Mustafá – Jaula – Manhã.
[Felipe e
Bruno estão presos dentro de uma jaula]
Bruno:
Você devia ter me escutado Felipe, se tivéssemos ido embora quando eu te
avisei, nada disso teria acontecido e ainda dava tempo de avisar à mãe.
Felipe:
A culpa não é minha! Eu não adivinharia que ele poderia nos escutar. Além do
mais, a Giuliane sabe de toda a história, eu tenho certeza que ela vai nos
tirar daqui.
Bruno:
Me explica como? Não viu que o Leôncio guardou a chave? Todo mundo aqui é
cúmplice dele Felipe, inclusive a Giuliane, ele faz isso pra ganhar dinheiro, e
quem não gosta de dinheiro? Por isso que ninguém dispôs a ajudar.
Felipe:
Tem razão... Aquele monte de gente nos olhando aguentar humilhação e ninguém
teve coragem de ajudar.
Bruno: O
jeito agora é esperar pra ver como vamos sobreviver quando formos vendidos e
pra quem seremos vendidos.
[Eles se
olham preocupados]
Hospital Scott
L. – Quarto de Zumira - Manhã.
[Zumira
está cercada de aparelhos engatados a seu corpo. Neide entra no quarto
acompanhada do médico. Neide segura na mão de Zumira.]
Neide: Ah,
minha amiga... Se você soubesse o quanto é ruim te ver nesse estado, te ver assim.
Médico:
Não se preocupe, a bala não conseguiu se alojar profundamente, apenas o susto
foi grande demais e abalou alguns órgãos. O cirurgião clinico e a equipe médica
encontraram algumas dificuldades em retirar a bala, mas tudo ocorreu bem.
Neide:
E o senhor tem ideia de quanto ficará o tratamento?
Médico:
Pra dizer a verdade, não. Mas eu tenho certeza que, por verem a situação
financeira de vocês, eles farão um bom preço.
Neide:
Eu espero... Dentro de quantos dias ela terá alta?
Médico:
Duas semanas no máximo. Assim que ela conseguir se comunicar perfeitamente
conosco o delegado virá aqui fazer algumas perguntas a ela. Não temos permissão
de libera-la antes disso.
Neide:
Entendo... Só não conseguir me conformar em pensar quem faria tamanha
barbaridade com uma pessoa tão humilde, tão batalhadora.
Circo La
Mustafá - Manhã.
[Uma
caminhonete carregada de laranja para em frente ao circo. Antunes e Antonio
descem.]
Antunes:
Ora, ora, ora! Não é que a fubica é bem arranjada mesmo? [Ele tira o óculos escuro para ver melhor] O que me diz Antonio?
Não é um ótimo cenário? Tente ligar as ideias: criança, compra e venda. Pra que
lugar melhor para atrair crianças do que um circo? [Ele e Antonio riem alto]
[Giuliane
está escondida vendo Antunes e Antônio, ela conversa sozinha]
Giuliane:
É hoje que esse circo pega fogo, e eu quero ver esse bando de palhaços morrerem
queimados!
O trabalho Doce Urbano de Sadrack Oliveira Alves foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivados 3.0 Não Adaptada.
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