11 de março de 2013

Serenidade - Capítulo 01

CAPÍTULO 01

MINAS GERAIS, 1989
CIDADE DE GENTE FINA

NARRADOR: Uma simples cidade, com pessoas de bem e felizes, é uma verdadeira Serenidade, uma grande paz. Essa cidade foi criada por dois homens que batalharam até a morte, Gente Fina, pessoas grandes e de pequenas coisas a oferecerem, mas uma coisa eles podem ter certeza, uma paz será que durará para sempre?

FAZENDA SANTA TEREZA
Noite de lua cheia, os sapos nos brejos cantam, o sereno bate nas telhas e em um quarto um casal se beijam na cama, deitados em um forro de linho branco, uma vela acesa na escrivaninha e um grande amor. Amanhece na fazenda Santa Tereza, Nina e Mirela estavam sentadas na cama, Nina penteia os cabelos longos da filha e ambas conversam:
MIRELA- mamãe.
NINA- oi.
MIRELA- quando é que vamos voltar no sitio de novo? Estou com saudades da caixa de mel que eu achei lá no mato!
NINA- minha filha, eu não quero que você volte a mexer naquelas caixa de mel, ali dentro tem abelhas e que se te morder pode até te matar.
MIRELA- mas mãe?
NINA- mais nada minha filha, agora vai. Pegue sua bolsa e vá pra escola.
Nina sai e Lola entra:
LOLA- será que eu posso falar um minuto com a senhora?

ESCRITÓRIO DE RODOLFO
Nina está histérica com o marido, atrás da porta Lola escuta tudo:
NINA- mas Rodolfo, não podemos fazer isso com a nossa filha, ela vai sofrer muito.
RODOLFO- mas Nina, a Mirela ainda é uma criança, mais tarde ela vai reconhecer o que nós fizemos.
NINA- não vai Rodolfo, não vai e sabe por que? Ela vai sofrer, me diz quem vai cuidar dela?
RODOLFO- não podemos deixar ela com a Lola, a Lola daqui uns anos morre e ela fica sozinha, o melhor é deixá-la na rua, alguém passará e apegará. (a abraça) meu amor confia em mim, seremos ricos e depois voltaremos para essa cidade e reencontraremos a mirela, por favor eu te peço uma única chance, uma só.
NINA- eu faço isso meu amor, mas faço de coração partido.
Ambos se abraçam, Lola vai até a varanda da fazenda e com seu cachimbo fica pensativa:
LOLA- o que eles estão pensando em fazer é uma maldade muito grande,muito grande.

ESCOLA SÃO FERNANDES
A professora explicava no quadro a matéria de matemática, enquanto Mirela escrevia em seu caderno uma cartinha para a mãe dizendo que a ama, Mirela dobra a carta e coloca no bolso da calça. O sinal bate e as crianças saem, na saída do colégio Lola e Mirela se encontram:
MIRELA- vó? A senhora nunca me buscou! Que milagre é esse?
LOLA- minha neta, algo de ruim está para acontecer, eu só quero que você faça o que eu vou te falar...
Lola cochicha no ouvido da neta, a noite chega, Rodolfo coloca no carro algumas malas, Nina abraça Lola e sai chorando com Mirela no colo e a coloca no banco de trás do carro, Rodolfo acelera o carro, Lola na expectativa:
LOLA- meu Deus, que ilumine a Mirela, que nada do que eu disse a ela saia da mente da minha neta.

ESTRADA DESERTA
Começa a chover e com trovoadas, o carro começa a querer atolar, mas Rodolfo acelera, Nina e Mirela se encaram por alguns segundos:
MIRELA- que foi tá me olhando mamãe?
NINA- nada não minha filha, nada não, só quero que saiba que aconteça o que acontecer eu sempre irei te amar, sempre.
Rodolfo pára o carro, Nina pega Mirela e uma mala e a tira do carro, Mirela não sabendo o que estava acontecendo chamava pela mãe e pelo pai chorando, Nina entra no carro e Rodolfo acelera, Mirela tenta alcançar o carro, mas não consegue, chorando ela se ajoelha na terra molhada e grita.
MIRELA- mãeee! Paiiii.
Mirela ainda está na terra molhada, chovendo ela tira a cartinha do bolso e amassa jogando no chão, ela levanta e sai andando:

BARRAGEM VIDRO OURO
A chuva começa a fazer grandes ondas na superfície da barragem, o homem de plantão vê que a ponte está começando a quebrar e telefona para alguns amigos.
No quarto um homem dorme, o celular toca com uma música alta a esposa que está do lado geme, o homem atende o celular:
HOMEM- alô, sim sou eu! (assusta) o quê? Está arrebentando? Não pode ser! Se a represa estourar a cidade mais próxima será alagada e todos os habitantes morrerão. Não, eu darei um jeito, até mais.
O homem desliga o celular, ele abre a janela de sua casa e fica olhando para a chuva caindo nas plantas:
HOMEM- por favor chuva, espera um pouco antes de cair mais, a cidade não pode morrer, não pode.
Na imagem escurece, o sol raia na fazenda Santa Tereza, Lola passa um novo café e Mirela está na mesa com os olhos avermelhados de tanto chorar.
 LOLA- se eu não escutasse a conversa daqueles dois, você não estaria aqui agora e sim perdida por essas estradas aí.
MIRELA- mas vó por que meus pais foram me abandonar assim do nada, o que eu fiz de errado?
LOLA- você não fez nada, eles é que fizeram quando te abandonaram, mas agora você tem a mim, não está abandonada não! Eu sou a sua avó e cuidarei da minha netinha amada. Mas ô eu terei que ir na cidade hoje vender alguns doces que me encomendaram, você vai querer ir comigo?
MIRELA- quero sim vovó, quem sabe eu não distraio.
NINA- tá certo, tá certo.

NA CIDADE:
Algumas famílias começam a colocar seus móveis e roupas nos carros e sai da cidade, algumas deixam os móveis e pegam o necessário e saem da cidade, outras ficam boquiabertos , pois leem a notícia em um banner na praça que a represa mais próxima irá estourar e que a cidade será alagada, de carroça Lola e Mirela chegam ali e não vêem quase ninguém:
LOLA- Deus do céu, cadê todo mundo?
MIRELA- (olhando o banner) o vó, olha aquilo ali.
LOLA- Nossa Senhora da Misericórdia, temos que sair daqui agora mesmo, vamos minha neta, vamos.
A represa começa a quebrar, aos poucos a água vai saindo pelos pequenos buracos feitos, até que estoura tudo,  a água começa a inundar os pastos, as pedras tudo o que vê pela frente, a água começa a entrar pouco a pouco na pequena cidade, muitos correm, mas não fogem da velocidade da tal qual, a carroça de Lola quebra quando estão partindo, a água já inunda metade da cidade, Lola grita pedindo socorro!
(CONTINUA...)


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