NO CAPÍTULO ANTERIOR...
Casa de Paolla
– Sala – Noite.
Marion:
A empregada nova da casa foi atropelada. Tá na hora de você demonstrar para o
povão o quanto você é preocupada com seus funcionários.
Paolla:
Ótimo! Liga para os jornalistas fazerem a cobertura. Tô indo pro hospital
municipal, pobre sempre tá em serviço único de saúde.
[Ela sai
dando altas gargalhadas] [Marion conversa sozinha]
Marion: Paolla...
Paolla... Você não perde por esperar...
AGORA...
Hospital
Municipal –Recepção – Noite.
[Paolla
chega ao hospital e vai direto à recepcionista]
Paolla:
Com licença, vocês ligaram para mim afirmando que uma empregada minha havia
sofrido um acidente.
Recepcionista:
Ah, sim! Paolla Ferraço não é isso?
Paolla:
Isso mesmo.
Recepcionista:
A senhora nos desculpe, é que a dona Zumira foi atropelada e como ela não tem
ninguém com um grau de parentesco por aqui, achamos melhor comunica-la.
Paolla:
Fez bem querida. A Zumira é como uma mãe para mim.
[Paolla,
agora mentindo, pois sabia que os jornalistas entrevistariam a recepcionista]
Paolla:
E ela está bem?
Recepcionista:
Sofreu apenas uma forte pancada e ferimentos leves na região da cabeça e nos
braços. Ficará internada por alguns dias, a senhora tem autorização para
entrar.
Paolla:
Obrigada.
Hospital
Municipal – Quarto de Zumira – Noite.
[Paolla
entra no quarto onde Zumira está internada, há outras duas camas porem vazias.
Zumira se assusta ao ver Paolla.]
Zumira:
Dona Paolla? Ai, meu Deus! Que vergonha! Eu pedi pra não chamarem à senhora.
Paolla:
Tudo bem Zumira... Não é coisa de outro mundo fazer uma visita para uma
funcionária enferma.
Zumira:
Não estou enferma dona Paolla, foi apenas um simples acidente.
Paolla:
Você conseguiu ver quem te atropelou?
Zumira:
Não... Foi tudo tão rápido, o carro preto virou a esquina rapidamente e me
atropelou. Só acordei com um monte de luzes no meu rosto e pessoas me
arrastando.
[Paolla
senta na cama ao lado de Zumira. Há um momento de silêncio.]
Zumira:
Eu devo pedir desculpas... Atrapalhei sua noite...
Paolla:
Não foi nada, eu nem tinha nada pra fazer em casa mesmo. É bom mudar a rotina
às vezes.
Zumira:
É que eu não gosto muito de hospitais, eles me assombram, já passei situações
difíceis.
Paolla:
Situações difíceis? Como assim?
Zumira:
Sofri bastante com a família, foram tantos os sofrimentos e no final acabei sem
nenhum filho, ao menos para me dar o prazer de ser mãe.
Paolla:
Sinto muito.
Zumira:
Eu também sinto... [As duas fazem uma
pausa no diálogo] Mas, e você? Sempre foi rica?
[Paolla
demonstra estar desconfortada com a conversa. Enche os olhos de lágrimas e
começa a relembrar seu passado.]
- 1988 –
“Nosso
cenário agora é outro, completamente diferente, inovador e ao mesmo tempo, um
lugar que esbanja a pobreza, a humildade e a vontade de certos cidadãos em ser
alguém melhor na vida. Seja bem vindo, ao aterro sanitário Tenente Baronel.”
Tenente
Baronel - Noite.
No aterro
sanitário Tenente Baronel, a chuva caía fortemente, os relâmpagos e trovões
reinavam naquele lugar. Apenas se via grande quantidade de lixo sendo
arrastados pela correnteza e muitas pessoas correndo, tentando salvar o pouco
de dignidade que ainda se resta. E é nesse cenário sombrio que transparecemos
nossos personagens, os quais darão vidas em nossos próximos trechos.
Casa de Zumira
& Aristides – Noite.
[Os seis
filhos de Zumira e Aristides dividam duas camas pequenas de solteiro na pequena
casa feita de palha no meio de tantos entulhos. Zumira estava sentada na mesa
segurando um copo com uma vela acesa em cima, com o rosto demonstrando fúria,
Aristides entra em casa, todo ensopado da água da chuva, bêbado e cantarolando]
Aristides:
Deixa a vida me levar, vida leva eu! Sou feliz e agradeço, por tudo que Deus me
deu.
[Ele canta
fazendo pausas para soluçar. Se assusta ao ver Zumira com um vestido branco
segurando a vela em cima da mesa]
Aristides:
O que é isso mulher? Quer me matar do coração? Fica aí boiando feito alma
penada... Um dia eu chego e ainda te mato se te encontro assim.
[Zumira
permanece calada]
Aristides:
Cadê a janta? Anda! Traz logo o prato que eu estou com fome. Tá esperando o que
vadia?
[Zumira
tira a faca que estava escondida atrás dela e a coloca bem de frente a vela]
Zumira:
Está vendo isso aqui Aristides? Você é capaz de enxergar o quão afiada essa
faca está? E é capaz de decifrar o que ela vai fazer com o seu pescoço hoje?
[Aristides
agora demonstra estar nervoso]
Aristides:
Que palhaçada é essa, hein? Perdeu o medo de morrer foi?
[Zumira
desce de cima da mesa com a faca e a vela na mão]
Zumira:
O medo de morrer eu perdi, mas a vontade de matar, eu ganhei.
[Aristides
dá um soco no rosto dela, ela se abaixa contorcendo de dor. Ele aproveita e
pega uma jarra em cima da mesa e joga nela, ela grita loucamente.]
Aristides:
E agora? Vai matar quem aqui, hein?!
[Bruno e
Felipe – os filhos mais velhos, com 12 anos
- levantam para apartar a briga]
Bruno:
Pai, para! Para com isso!
[Felipe
abraça Zumira]
Felipe:
O senhor esqueceu o que aconteceu da ultima vez? Depois ligam para a policia, o
senhor vai preso e nós é quem sofremos.
Aristides:
Vocês são um bando de ordinários mesmo, infelizes. Maldita a hora em que vocês
vieram ao mundo, pestes dos infernos. Vamos, põe a água no fogo que eu quero
tomar um banho.
Bruno:
O senhor não está vendo que está trovejando muito? Não dá pra enxergar um palmo
na frente do nariz.
[Aristides
segura o pescoço dele começando a enforcar]
Aristides:
Você está muito “galudinho” pro meu gosto... Tá querendo bater as asinhas é?
[Ele
empurra Bruno no chão]
Zumira:
Deixa os meninos em paz Aristides! [Ela
fala em tom severo e alto] Em filho meu ninguém tasca a mão... Se alguém
tem que aguentar as suas idiotices aqui nessa casa, esse alguém sou eu.
Felipe:
Mãe, deixa ele... Deixa ele...
Zumira:
Fica quieto Felipe.
Aristides:
Não escutou o menino não Zumira?
Zumira:
Tá querendo cantar de galo aqui Aristides? Logo você que não põe uma quirera
aqui dentro de casa?
Aristides:
Tá me desafiando? Preta safada... [Ele
vai tirando o cinto enquanto fala]
Zumira:
Para com isso... O que acha que vai fazer?
[Ele tira o
cinto e dá uma cintada no rosto dela. Os meninos imploram e choram.]
Bruno:
Não pai! Por favor, para!
Felipe:
Não faz isso com a mãe não pai, para com isso! Para!
Aristides:
Cala a boca vocês dois, direto para cama se não quiserem levar uma sova.
[Os dois,
chorando, saem]
Aristides:
Agora é a sua vez... Não queria me desafiar? Pois bem.
[Ele a
empurra contra a mesa, rasga o vestido dela e abaixa a calça.]
Zumira:
Pelo amor de Deus, para com isso Aristides. Eu já estou prenha do nosso sétimo
filho, para com isso.
Aristides:
Cala a boca e fica quieta. Caladinha... Isso mesmo!
[Enquanto
isso, já deitados, Bruno e Felipe conversam baixo, tendo o som do sofrimento da
mãe abafado pelo barulho da chuva]
Bruno:
Felipe, não podemos deixar a mamãe sofrendo assim.
[Felipe
enxuga as ultimas lágrimas]
Felipe:
Eu sei... Amanhã já não temos o que comer... A mãe fez os últimos dois ovos
ontem.
Bruno:
O homem que compra cobre não passou faz duas semanas.
Felipe:
Vamos ter que trabalhar, senão “maínha” vai acabar morrendo.
[Os dois se
abraçam, com um irmão no meio]
Bruno:
Seremos unidos Felipe, e sempre ajudaremos a mãe.
Felipe:
Sempre. E nada, nem ninguém vai nos separar.
O trabalho Doce Urbano de Sadrack Oliveira Alves foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivados 3.0 Não Adaptada.
Adorando a trama! Parabéns ao autor!
ResponderExcluirÉrica
tah boa sim
Excluiragora vai ficar melhor....
ResponderExcluirotima trama!
o enredo e otimo!
Gu
Ta ficando melhor a cada capítulo! Otima web-novela, parabéns!
ResponderExcluirCada vez melhor, Sadrack!!
ResponderExcluirParabéns!! :D
Muito Obrigado à todos! :)
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