NO CAPÍTULO ANTERIOR...
Hospital Scott
L. – Manhã - Diretoria.
Antunes:
Bons tempos que não voltam mais... Nem acredito que você virou doutor.
Salvatore:
Não virei. Meu primo virou presidente da área da saúde do estado e conseguiu o
emprego aqui pra mim. Mas, mudando o assunto, veio visitar alguém aqui no
hospital?
Antunes:
Não, na verdade não. Eu preciso de um serviço seu. Um serviço, digamos que um
pouco sujo... Você vai ter que quebrar mais que um galho pra mim, vai ter que
quebrar a arvore inteira.
Salvatore:
Não estou entendendo.
Antunes:
Eu quero matar, matar mesmo, uma paciente sua.
[Salvatore
se assusta]
AGORA...
Hospital Scott
L. – Manhã - Diretoria.
Salvatore: Matar?
Você ficou doido Antunes? Lógico que eu não posso fazer isso, nunca!
Antunes:
Não vai doer em nada, nem pra você e nem pra ela. Você vai aplicar uma injeção,
ela vai adormecer durante dez horas, eu só vou coloca-la dentro de um caixão e
ela vai morrer aos poucos.
Salvatore:
Deixe-me ver se eu entendi. Você quer que eu aplique uma injeção, ela vai
dormir e você vai coloca-la viva dentro de um caixão?
Antunes:
Isso mesmo!
Salvatore:
Mas eu não farei isso nunca! Eu tenho uma reputação e um cargo no hospital a
servir, não posso deixar tudo a perder.
Antunes:
Mas ninguém saberá de nada Salvatore.
[Salvatore
levanta e caminha em direção à porta, ele abre e faz menção para Antunes sair.]
Salvatore:
Antunes, sinto muito, isso eu não posso fazer. Agora, se me der licença eu
tenho uns papéis para assinar.
[Antunes se
levanta, fecha a porta e empurra Salvatore na parede, ele fala cara a cara]
Antunes:
Você acha mesmo que não vai fazer isso pra mim, Salvatore? Você acha que eu me
esqueci do que você fez no aniversário da cidade do ano retrasado? Eu acho que
você não se esqueceu de quando aquela belíssima cantora de samba morreu
eletrocutada no camarim, misteriosamente. E você também se lembra de que você
estava fazendo fichinha de guarda-costas naquela noite? Coincidência demais,
não é mesmo?
Salvatore:
Você não tem provas para isso, Antunes.
Antunes:
E quem disse que eu preciso de provas? Você escolhe, ou me faz o favor, ou eu e
o delegado vamos ter uma conversinha. O que acha?
[Salvatore
engole seco]
Salvatore:
Cadê a desgraça dessa injeção?
[Antunes
solta ele da parede]
Antunes:
Muito bem, é assim que eu gosto.
Estrada –
Manhã.
[Antonio
continua seguindo o caminhão onde Felipe está escondido. O caminhoneiro – Wando
- estaciona o caminhão em um restaurante de beira de estrada cercado de um
milharal, Antonio estaciona logo em seguida. Ambos descem.]
Antônio: Bom
dia camarada.
Wando:
Bom dia.
Antônio:
Mal lhe pergunte, mas que carga o senhor está transportando?
Wando:
E porque você quer saber?
Antônio:
Eu venho seguindo o senhor desde que saiu das fazendas dos cafezais e observei
uma atitude suspeita.
Wando:
O que eu transporto não te diz respeito.
Antônio:
Diz sim! Se você não sabe, eu sou fiscal ambiental, e exijo por lei ver sua
mercadoria.
Wando:
Só deixarei se me mostrar um certificado de que realmente é um fiscal
ambiental.
Antônio:
Pois bem, me siga até meu carro.
[Os dois
vão em direção ao carro de Antonio. Felipe começa a escutar a conversa de
dentro do caminhão. Antônio pega um papel e mostra a Wando.]
Wando:
Mas isso aqui não é nenhuma licença de fiscalização. Me parece mais um cupom
fiscal.
Antônio:
Serio? Deixe-me ver melhor.
[Antonio se
aproxima e dá um tiro no peito de Wando. Felipe, de dentro do caminhão, se assusta
com o tiro e abre a porta. Ele fica frente a frente com Antônio.]
Antônio: Ora,
ora, ora! Nem precisei de muito esforço e a peste apareceu!
Felipe:
Me deixe ir embora... Eu não quero te machucar!
[Antônio ri
alto]
Antônio:
Me machucar? Tá de gozação com a minha cara pirralho? Você não sabe como eu tô
com vontade de rachar essa sua cara... Mas o patrão quer você vivo.
[Ele vai se
aproximando de Felipe. Felipe vai se afastando.]
Felipe:
Eu não quero ir embora com você! Me deixa em paz!
Antônio:
Não é questão de querer. Você vai sim!
[Felipe
corre e entra no milharal, Antônio dá um tiro, mas não acerta.]
Antônio:
Droga! Eu vou te pegar encapetado!
[Antônio
também entra no milharal. Vários carros passam na rodovia, mas ninguém ajuda]
Hospital Scott
L. – Manhã – Lado de fora.
[Bruno está
nervoso dentro do carro, Antunes entra, e Bruno começa a dar murros leves no
ombro dele]
Bruno: Seu
desgraçado! Psicopata! Eu te odeio, odeio! Velho maluco!
[Antunes
segura as mãos dele, eufórico]
Antunes:
Ficou doido? Perdeu o medo de morrer, guri?
Bruno:
Você acha que eu sou bobo? O que vai fazer com a minha mãe?
Antunes:
Sua mãe? Do que você está falando?
Bruno:
Eu vi! Vi a minha mãe. [Ele começa a
chorar] O que você fez com ela? Eu quero vê-la! Abre essa porta. Abre!
Antunes:
Eu não vi ninguém dentro daquele hospital. Você deve ter tido alucinações.
Saudades demais... É comum isso...
[Bruno
enxuga as lágrimas e parece conformado]
Antunes:
Você tem que entender que a partir de agora eu sou sua família. Só Deus sabe
onde estão seus pais...
Bruno:
Mas eu juro que vi ela...
[Antunes o
abraça com falsidade]
Antunes:
Foi apenas coisa da sua cabeça... Não se preocupe...
Milharal –
Manhã.
[Felipe
corre desesperadamente pelo milharal e percebe que está sendo seguido por Antônio.
Ele conversa sozinho.]
Felipe: Meu
Deus! E agora? O que eu faço?
[Vários
urubus voam acima dele, o cenário é de suspense. O milharal é extenso e já está
seco. Antônio dá um tiro para o alto, Felipe se assusta e continua a correr.]
Hospital Scott
L. – Manhã – Quarto de Zumira.
[Salvatore
entra no quarto de Zumira, tranca a porta, desconfiadamente. Zumira começa a
gritar.]
Zumira:
Cadê meu filho? Eu o vi! Eu quero meu filho... Me deixe sair. Eu quero ver o
meu filho!
Salvatore:
Acalme-se... Ficou doida? Quer passar o resto da sua vida em um manicômio?
[Zumira se
espanta e cala a boca]
Salvatore:
Se você continuar com esse escândalo inútil e bobo, você vai acabar tendo que
passar o resto da vida em uma clinica psiquiatra, como doida. É isso que você
quer?
Zumira:
Não... Não é isso...
Salvatore:
Agora, com calma, sente-se e me explique que história é essa do seu filho.
Zumira:
Eu juro senhor, juro por tudo que é mais sagrado nessa Terra. Eu vi o meu filho
pela janela do quarto, eu tentei abrir para gritar, mas não consegui.
[Ela enche
os olhos de lágrimas]
Salvatore:
Olha, veja bem, eu não posso permitir que você saia do quarto, o médico que te
examina disse que você não está bem mentalmente. Mas eu vou fazer o que puder
para que os seguranças do hospital encontrem o seu filho. Mas eu não garanto
nada.
Zumira:
Eu entendo.
Salvatore:
Agora, eu vou aplicar uma injeção em você. É apenas um calmante, para passar o
estresse.
Zumira:
Estou mesmo precisando.
Salvatore:
Então eu adivinhei mesmo. Relaxe que eu vou aplicar.
[Ele injeta
o liquido nela, a reação é questão de segundos.]
Zumira:
Nossa! Eu não estou me sentindo bem...
Salvatore:
O que houve?
Zumira:
Meus ouvidos estão zunindo muito, meu corpo parece que está formigando, não
consigo manter os olhos abertos.
[As
palavras dela vão sumindo, até que ela se apaga de vez. Salvatore liga para
Antunes.]
Salvatore: Alô,
Antunes? Salvatore. Sim. Serviço cumprido. Ótimo! Mande o caixão o mais rápido
que puder. A defunta já está pronta!
O trabalho Doce Urbano de Sadrack Oliveira Alves foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivados 3.0 Não Adaptada.
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