20 de fevereiro de 2013

Capítulo 21 - Doce Urbano



 

NO CAPÍTULO ANTERIOR...
Estrada – Amanhecendo.
[Dentro da carroceria do caminhão, Felipe começa a acordar, ele olha em volta e se assusta. Ele está cercado de caixas, muitas caixas cheias de ossos.]
Felipe: O-oh! Me-meu Deus!
[Ele se assusta]

AGORA...
Estrada – Amanhecendo.
[Felipe levanta vagarosamente, espantado com a quantidade de ossos que vê.]
Felipe: Pra que alguém iria querer tanto osso?
[Há uma tábua separando a carroceria]
Felipe: Como vou sair daqui?
[Felipe empurra uma, duas, três vezes até que consegue tombar a tábua. Do outro lado há várias caixas com frutas.]
Felipe: Frutas? Mas... [Ele fica pensativo] Estou em um caminhão de contrabando? Quem contrabandearia ossos?
[Felipe pega algumas uvas e começa a comer, desconfiado]
Hospital Scott L. – Amanhecendo.
[Antunes estaciona o carro em frente ao hospital.]
Bruno: O que viemos fazer aqui?
Antunes: O que “eu” vim fazer aqui... Isso não é da sua conta!
[Ele pega a arma da mão de Bruno.]
Antunes: Você é mesmo bem mais burro que seu irmão. Seu eu tivesse deixado essa arma durante cinco minutos com ele, ele causaria um regaço. Já você... Covarde.
[Antunes sai do carro e tranca as portas, com os vidros fechados. Bruno fica observando ele entrar no hospital.]


Estrada – Amanhecendo.
[O dia já está quase clareando. Do lado de dentro da carroceria do caminhão, Felipe tenta abrir a porta.]
Felipe: Droga! Como eles conseguem inventar uma geringonça tão difícil?!
[Ele se afasta, pega um osso grande e começa a martelar a trava, até ela começar a abaixar.]

Hospital Scott L. – Amanhecendo.
[Zumira, ainda meio sonolenta, levanta da cama. Esfrega as mãos nos olhos e vai em direção a única janela do quarto. De onde está – segundo andar – ela vê Bruno dentro do carro com o rosto encostado no vidro. Ela se assusta.]
Zumira: Bruno? Filho? Ah, meu Deus! Eu não acredito!
[Ela tenta abrir a janela, mas não consegue. Ela vai ate a porta do quarto, tenta abrir mas está trancada por fora.]
Zumira: Socorro! Alguém me tira daqui... Meu filho está vivo! Vivo!
[Ela escuta alguém destrancando a porta. Ela fica calada. Antunes entra.]
Zumira: Você?
Antunes: Surpresa?!
Zumira: O que você está fazendo aqui? Saia! Não quero te ver...
[Antunes da um tapa no rosto dela]
Antunes: Eu não perguntei se queria me ver. Aliás, eu acho que queria sim me ver, já que fez aquela palhaçada novamente na TV.
Zumira: Você mereceu... O que está fazendo com meu filho? Eu quero vê-lo!
Antunes: Seu filho?
Zumira: Não se faça de desentendido! O que meu filho está fazendo naquele carro lá fora? Ou aquele carro não é seu?
[Antunes se assusta maliciosamente]
Antunes: Ah! Então o pivete é seu filho...  Tal mãe, tal filho.
Zumira: Escuta aqui, se você triscar só um dedo no meu filho, eu juro que...
[Antunes segura ela pelo queixo]
Antunes: Jura o que hein!? Você não sabe como meu braço está coçando pra eu acabar com essa sua cara.
[Zumira escapa das mãos dele]
Zumira: Então vem, vem cá! Está esperando o que? Racha a minha cara! Você não é o cara?!
[Antunes dá um soco fortíssimo no rosto dela, ela cai no chão. Ele sai do quarto e tranca a porta novamente. Zumira levanta e tenta abrir a porta.]
Zumira: Alguém me tira daqui! Por favor! Neide, cadê você?
[Ela vai até a janela]
Zumira: Bruno! Olha a mamãe aqui... Me ajuda!
[Ninguém a escuta. Ela chora.]

Estrada – Amanhecendo.
[Dentro do caminhão, Felipe consegue destravar a porta, ele a abre com o caminhão ainda andando. Ele vê Antônio em um carro, seguindo o caminhão, ele se assusta. Antônio, em seu carro faz um sinal de revolver com a mão apontando para Felipe e dá uma piscada com o olho. Felipe fecha a porta.]
Felipe: Ah, meu Deus! E agora? Se ele me pegar de novo eu morro...

Hospital Scott L. – Amanhecendo.
[Do lado de fora, dentro do carro, Bruno conversa sozinho.]
Bruno: Se eu achar alguma arma, eu posso conseguir sair daqui.
[Ele procura sem cessar por uma arma. Ele olha para a janela do hospital e consegue ver Zumira.]
Bruno: Mãe? Você? [Ele começa a gritar mas ninguém o escuta] Mãe! Me tira daqui! Eu estou aqui. Me ajudem! Mãe! Mãe!
[Ele dá murros no vidro do carro tentando sair, mas em vão]

Hospital Scott L. – Manhã - Diretoria.
[Antunes entra na sala da diretoria do hospital e se surpreende ao ver que o diretor é Salvatore]
Antunes: Ah! Mas eu não acredito.
[Salvatore se levanta e os dois se abraçam]
Salvatore: Antunes, que bom te ver!
Antunes: Digo o mesmo... Como o tempo voa, cara. Parece que foi ontem que éramos moleques de rua e da mesma escola.
Salvatore: Nem me diga! Mas, sente-se. Que bons ventos o trazem aqui?
[Os dois se sentam]
Antunes: Salvatore, eu juro por tudo que não sabia que iria te encontrar aqui.
Salvatore: Eu pensei que já estivesse morto. Desde criança você gostava de brigas...
Antunes: Lembra quando te joguei no caminhão de lixo por que a gente gostava da mesma garota?
[Salvatore ri]
Salvatore: Impossível esquecer! E depois eu sai com a cara toda lambrecada no jornal da escola. [Os dois riem] O pior é que a garota era feia, desdentada, os únicos dentes que tinha ainda eram com aparelho, e o rosto não tinha um lugar que não havia espinha.
Antunes: Bons tempos que não voltam mais... Nem acredito que você virou doutor.
Salvatore: Não virei. Meu primo virou presidente da área da saúde do estado e conseguiu o emprego aqui pra mim. Mas, mudando o assunto, veio visitar alguém aqui no hospital?
Antunes: Não, na verdade não. Eu preciso de um serviço seu. Um serviço, digamos que um pouco sujo... Você vai ter que quebrar mais que um galho pra mim, vai ter que quebrar a arvore inteira.
Salvatore: Não estou entendendo.
Antunes: Eu quero matar, matar mesmo, uma paciente sua.
[Salvatore se assusta]


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