
NO CAPÍTULO ANTERIOR...
Casarão de
Antunes –Noite – Corredores.
[Marques –
o capanga – e Bruno chegam até a porta do porão.]
Bruno:
É aqui?
Marques:
Sim... Eu vou levantar a porta, você desce as escadas e acende a luz, o
apagador fica do lado esquerdo.
Bruno:
Você não vai entrar?
Marques:
Não, o Seu Antão não gosta de contato com criados.
Bruno:
Entendo...
[Marques
abre a porta, Bruno entra, vai descendo as escadas com a mão na parede, ele
acende a luz e se assusta. Três grandes dobermanns – raça de cachorro – estão
olhando frente a frente com ele, rangendo os dentes famintos de fome. Bruno
perde a voz de nervosismo.]
Bruno:
A-ah, meu Deus!
AGORA...
Matagal -
Noite.
[Felipe corre desesperadamente e é
seguido por Antonio, que também corre. Antonio, no escuro, dá um tiro. Felipe
se assusta, tropeça e cai sendo coberto por folhas. Antonio se aproxima, sem
enxergar nada, apenas a lua cheia, Felipe fica calado.]
Antonio: Cadê você? Aparece sua bicha! Eu
vou te pegar! [Antonio dá um tiro para o
alto] Eu vou te matar! Está me ouvindo?
[Antonio dá uns passos e pisa em
cima de Felipe, coberto por folhas, ele não percebe, Felipe fica atônito]
Antonio: É melhor você aparecer agora, se
me fizer cansar eu te mato. Te estrangulo moleque. Me ouviu?
[Felipe levanta rapidamente e
Antonio cai no chão. Felipe corre, Antonio levanta e dá um tiro que acerta no
braço de Felipe. Os dois continuam correndo.]
Antonio: Volte aqui seu veado! Volte!
Hospital Scott
L. –Noite – Quarto de Zumira.
[Zumira
está dormindo, Neide entra e tenta acorda-la.]
Neide:
Zumira... Acorde! Zumira!
[Ela começa
a acordar]
Zumira:
O que foi?
Neide:
Eles chegaram...
Zumira:
Eles quem?
Neide:
O pessoal do jornal, têm dois repórteres querendo falar com você.
[Zumira se
assusta]
Zumira:
Eles vieram mesmo? Ah, meu Deus! E agora? O que eu faço?
Neide:
Cumpra com o que prometeu. Você conhece como são os jornalistas, inventam
mentiras toda hora.
Zumira:
Tem razão. [Ele passa a mão no cabelo,
arrumando-o] Mande-os entra Neide.
[Neide sai.
Em seguida ela retorna com os repórteres e a equipe jornalística]
Repórter 1:
Boa noite!
Zumira:
Boa noite.
Repórter 1:
Bom, recebemos uma notificação de que a senhora tem algo a declarar.
Zumira:
É, sim, eu tenho.
Repórter 2:
Como você escandalizou e se mostrou em um jornal popular durante uma matéria em
tempo real, muitas pessoas ficaram sem entender o real motivo daquilo.
Zumira:
Eu entendo. Bem, mas eu estou disposta a remedar esse estrago, ou quem sabe,
fazer um estrago maior.
Repórter 1:
A senhora prefere que façamos as perguntas ou quer discursar diretamente?
Zumira:
Bem, eu prefiro expor minha ideia.
Repórter 1:
Ótimo! Liguem as câmeras.
[A equipe
obedece]
Repórter 1:
Pode começar.
Zumira:
Bem... Como diria... Eu não tenho e nem sei as palavras certas para usar agora,
planejei muitas horas para falar, mas as palavras fugiram. Vou ser clara e
objetiva. Dias atrás, eu continuava sendo a mesma mulher simples, moradora de
um lixão, com um marido alcoólatra e uma grande família. Sem ter o que comer e
com as condições fracas eu vim à cidade grande e recebi a proposta de um homem
para me prostituir. Eu fiz conforme havíamos combinado... Ao retornar para
casa, tudo e todos que eu tinha por mim haviam sido destruídos pelo fogo. Foi
justamente no dia em que eu escandalizei em rede nacional. Por causa do
escândalo, o homem o qual eu me prostitui a ele, me agrediu violentamente,
tentou me matar e sofri ameaças. É por causa dele que eu estou aqui, para que
vocês enxerguem que há um criminoso, assassino, matador-profissional rondando
os lares e se fazendo de bom sujeito.
Casarão de
Antunes –Noite – Quarto de Antão.
[Antão está
sentado em uma cadeira com o braço apoiado na mesa, enquanto seu capanga o
auxilia a fazer um curativo]
Antão: Desgraçado!
Quando encontrarem aquele filho da égua eu vou mata-lo. Mata-lo! Garoto
infernal... [O capanga aperta o
curativo, Antão sente dor.] Aaah! Cuidado com o que faz, anta!
Casarão de
Antunes –Noite – Porão.
[Os
cachorros – dobermans – começam a se aproximar de Bruno, rosnando. Bruno fica
trêmulo e apavorado, não consegue gritar. Ele fecha os olhos, abaixa a cabeça e
ergue a mão em direção aos cachorros. Ele começa a recitar um salmo.]
Bruno: “[...]
Ele te cobrirá com as suas penas, e debaixo das suas asas estarás seguro: a sua
verdade é escudo broquel. [...] Porque aos seus anjos dará ordem a teu
respeito, para e guardarem em todos os teus caminhos. [...] Não temerás espanto
noturno, nem seta que voe de dia. [...] Pisarás o leão e a serpente; calcarás
aos pés o filho do leão e a serpente.”
[Os
cachorros começam a se afastar de Bruno, a manter distancia e deitam longe
dele. Bruno abre os olhos vagarosamente, percebe que os animais se afastaram,
ele senta na escada do porão e começa a chorar.]
Matagal –Noite
.
[Felipe
consegue despistar Antonio e sair do matagal. Começa a chuviscar. Ele consegue
sair em uma BR, tudo está muito escuro, ele respira ofegantemente. Um caminhão
vem em alta velocidade no rumo de Felipe, com o farol alto e buzinando. Felipe
se assusta.]
O trabalho Doce Urbano de Sadrack Oliveira Alves foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivados 3.0 Não Adaptada.
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