18 de fevereiro de 2013

Capítulo 19 - Doce Urbano

 


NO CAPÍTULO ANTERIOR...
Casarão de Antunes –Noite – Corredores.
[Marques – o capanga – e Bruno chegam até a porta do porão.]
Bruno: É aqui?
Marques: Sim... Eu vou levantar a porta, você desce as escadas e acende a luz, o apagador fica do lado esquerdo.
Bruno: Você não vai entrar?
Marques: Não, o Seu Antão não gosta de contato com criados.
Bruno: Entendo...
[Marques abre a porta, Bruno entra, vai descendo as escadas com a mão na parede, ele acende a luz e se assusta. Três grandes dobermanns – raça de cachorro – estão olhando frente a frente com ele, rangendo os dentes famintos de fome. Bruno perde a voz de nervosismo.]
Bruno: A-ah, meu Deus!

AGORA...
Matagal - Noite.
[Felipe corre desesperadamente e é seguido por Antonio, que também corre. Antonio, no escuro, dá um tiro. Felipe se assusta, tropeça e cai sendo coberto por folhas. Antonio se aproxima, sem enxergar nada, apenas a lua cheia, Felipe fica calado.]
Antonio: Cadê você? Aparece sua bicha! Eu vou te pegar! [Antonio dá um tiro para o alto] Eu vou te matar! Está me ouvindo?
[Antonio dá uns passos e pisa em cima de Felipe, coberto por folhas, ele não percebe, Felipe fica atônito]
Antonio: É melhor você aparecer agora, se me fizer cansar eu te mato. Te estrangulo moleque. Me ouviu?
[Felipe levanta rapidamente e Antonio cai no chão. Felipe corre, Antonio levanta e dá um tiro que acerta no braço de Felipe. Os dois continuam correndo.]
Antonio: Volte aqui seu veado! Volte!


Hospital Scott L. –Noite – Quarto de Zumira.
[Zumira está dormindo, Neide entra e tenta acorda-la.]
Neide: Zumira... Acorde! Zumira!
[Ela começa a acordar]
Zumira: O que foi?
Neide: Eles chegaram...
Zumira: Eles quem?
Neide: O pessoal do jornal, têm dois repórteres querendo falar com você.
[Zumira se assusta]
Zumira: Eles vieram mesmo? Ah, meu Deus! E agora? O que eu faço?
Neide: Cumpra com o que prometeu. Você conhece como são os jornalistas, inventam mentiras toda hora.
Zumira: Tem razão. [Ele passa a mão no cabelo, arrumando-o] Mande-os entra Neide.
[Neide sai. Em seguida ela retorna com os repórteres e a equipe jornalística]
Repórter 1: Boa noite!
Zumira: Boa noite.
Repórter 1: Bom, recebemos uma notificação de que a senhora tem algo a declarar.
Zumira: É, sim, eu tenho.
Repórter 2: Como você escandalizou e se mostrou em um jornal popular durante uma matéria em tempo real, muitas pessoas ficaram sem entender o real motivo daquilo.
Zumira: Eu entendo. Bem, mas eu estou disposta a remedar esse estrago, ou quem sabe, fazer um estrago maior.
Repórter 1: A senhora prefere que façamos as perguntas ou quer discursar diretamente?
Zumira: Bem, eu prefiro expor minha ideia.
Repórter 1: Ótimo! Liguem as câmeras.
[A equipe obedece]
Repórter 1: Pode começar.
Zumira: Bem... Como diria... Eu não tenho e nem sei as palavras certas para usar agora, planejei muitas horas para falar, mas as palavras fugiram. Vou ser clara e objetiva. Dias atrás, eu continuava sendo a mesma mulher simples, moradora de um lixão, com um marido alcoólatra e uma grande família. Sem ter o que comer e com as condições fracas eu vim à cidade grande e recebi a proposta de um homem para me prostituir. Eu fiz conforme havíamos combinado... Ao retornar para casa, tudo e todos que eu tinha por mim haviam sido destruídos pelo fogo. Foi justamente no dia em que eu escandalizei em rede nacional. Por causa do escândalo, o homem o qual eu me prostitui a ele, me agrediu violentamente, tentou me matar e sofri ameaças. É por causa dele que eu estou aqui, para que vocês enxerguem que há um criminoso, assassino, matador-profissional rondando os lares e se fazendo de bom  sujeito.

Casarão de Antunes –Noite – Quarto de Antão.
[Antão está sentado em uma cadeira com o braço apoiado na mesa, enquanto seu capanga o auxilia a fazer um curativo]
Antão: Desgraçado! Quando encontrarem aquele filho da égua eu vou mata-lo. Mata-lo! Garoto infernal... [O capanga aperta o curativo, Antão sente dor.] Aaah! Cuidado com o que faz, anta!

Casarão de Antunes –Noite – Porão.
[Os cachorros – dobermans – começam a se aproximar de Bruno, rosnando. Bruno fica trêmulo e apavorado, não consegue gritar. Ele fecha os olhos, abaixa a cabeça e ergue a mão em direção aos cachorros. Ele começa a recitar um salmo.]
Bruno: “[...] Ele te cobrirá com as suas penas, e debaixo das suas asas estarás seguro: a sua verdade é escudo broquel. [...] Porque aos seus anjos dará ordem a teu respeito, para e guardarem em todos os teus caminhos. [...] Não temerás espanto noturno, nem seta que voe de dia. [...] Pisarás o leão e a serpente; calcarás aos pés o filho do leão e a serpente.”
[Os cachorros começam a se afastar de Bruno, a manter distancia e deitam longe dele. Bruno abre os olhos vagarosamente, percebe que os animais se afastaram, ele senta na escada do porão e começa a chorar.]

Matagal –Noite .
[Felipe consegue despistar Antonio e sair do matagal. Começa a chuviscar. Ele consegue sair em uma BR, tudo está muito escuro, ele respira ofegantemente. Um caminhão vem em alta velocidade no rumo de Felipe, com o farol alto e buzinando. Felipe se assusta.]

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