13 de fevereiro de 2013

Capítulo 15 - Doce Urbano

 

NO CAPÍTULO ANTERIOR...
Rua - Manhã.
[Felipe e Bruno correm de cavalo e Antonio os segue, eles tentam despista-lo, até que eles viram uma esquina onde não tem saída. Antonio para a caminhonete no meio, impedindo a saída. Ele pega um revólver no banco de trás da caminhonete e desce com um olhar malicioso.]
Antonio: E agora? Quem vai querer encarar o titio aqui? Se correr, o bicho pega, e se ficar... O bicho come!

AGORA...
Rua - Manhã.
[Felipe e Bruno olham um para o outro, desesperados]
Felipe: E agora Bruno?
Antonio: E agora? Agora vocês descem dos cavalos e vêm com o titio Antonio. Quietinhos! Sem dar bandeira!
Bruno: Hum... Você acha mesmo que eu vou me entregar fácil assim?
[Bruno bate no cavalo fazendo-o correr em direção à caminhonete. Antonio dá um tiro no cavalo, ele cai e derruba Bruno, que grita]
Antonio: Achou mesmo que esse cavalinho de circo iria pular a minha caminhonete? Nem morto! Agora para de frescura e levanta daí, e você desce do cavalo. Quero dos dois na caminhonete em dez segundos.
[Felipe percebe que o irmão não está conseguindo se levantar, ele então desce do cavalo e ajuda o irmão.]
Antonio: Ótimo! É assim mesmo que eu gosto. Agora vamos parar de manha e entrem no carro. Quero os dois no banco da frente, à minha vista, e nada de gracinha.
[Antonio abre a porta e os dois entram, Bruno apoiado no ombro do irmão. Antonio rodeia a caminhonete e entra]


Circo La Mustafá - Manhã.
[Algumas pessoas que trabalham no circo conversam entre si]
- E agora? Vocês viram onde está o senhor Leôncio?
- Vi ele entrando no depósito, onde a jaula estava.
- Mas eu acabei de vir de lá, está apenas os destroços, a não ser que ele tenha morrido queimado.
- E a Giuliane?
- Aquela lá eu tenho certeza que fugiu, não dava certo com o pai, aproveitou a deixa e se mandou.
[Antunes se aproxima]
Antunes: É aí que vocês se enganam... Um dos homens, um faxineiro, avistou os dois assim que o telhado veio abaixo.
- Meu Deus! E agora? Como vamos sobreviver? Quem nos pagará?
Antunes: Contratem um advogado, vocês vão precisar...
[Antonio para a caminhonete ao lado de Antonio. Ele desce e os garotos continuam dentro.]
Antunes: Aonde você foi estrupício? Todo mundo preocupado com o fogo e você dando voltinha?
Antonio: Calma chefe.
Antunes: Calma? O Leôncio e a filha dele morreram, e pra piorar a minha mercadoria também, os dois garotos morreram!
Antonio: E o que o senhor me diz disso aqui?
[Ele abre a porta da caminhonete, Antunes vê os dois garotos e se assusta]
Antunes: Que macumba boa da moléstia é essa que você fez homem?
Antonio: Macumba coisa nenhuma, os dois aproveitaram que o povão tava correndo por causa do fogo, pegaram dois cavalos e iam fugindo.
[Antunes pega os dois pela olheira e os tiram do carro]
Antunes: Então quer dizer que esses magrelos do capeta queriam fugir do tio Antão aqui?
[Antunes acende um cigarro e coloca na boca] Bora pro carro negada! Tá na hora de vocês conhecerem um novo mundo.
Antonio: O senhor não vai pagar ninguém não?
Antunes: Pra que? Se o vendedor já virou defunto!
[Ele ri alto e coloca Felipe e Bruno dentro da caminhonete. Ele e Antonio entram. Quando vão saindo, Felipe fixa o olhar no circo, como despedida, uma lágrima corre sobre seu rosto]

Hospital Scott L. – Quarto de Zumira - Tarde.
[Zumira, já acordada, conversa com Neide]
Neide: Que bom que você já está melhor amiga, por um instante pensei que fosse te perder.
Zumira: Eu também... Foi tudo tão rápido. Alem do mais, eu lhe devo desculpas Neide, fui grossa com você, amigas não fazem isso.
Neide: Tudo bem, você ainda está passando por uma fase difícil.
[As duas seguram as mãos]
Neide: Você consegue recordar quem fez isso com você Zumira?
[Zumira fica trêmula]
Zumira: Não! Eu não! Lógico que não! Por que lembraria? Foi tudo muito rápido...
Neide: Tem certeza?
Zumira: Sim...
Neide: E quando você fez aquele escândalo na TV, e disse que se prostitui para um velho. Quem é esse velho?
[O médico entra no quarto e interrompe]
Médico: Com licença. E então Zumira, como está?
Zumira: Bem melhor doutor, obrigada.
Médico: Bom, mesmo que o hospital seja particular e a comida seja uma das melhores, não aconselho a dona Zumira a comer. O mais aconselhável seria uma sopa bem feita de verduras, com bastante verdura mesmo.
Zumira: Bom doutor, eu não tenho dinheiro aqui e nem condições para prepará-la.
Neide: Tudo bem Zumira, eu vou ver o que posso fazer por você.

Supermercado Grande Feira  –Tarde.
[Neide entra no supermercado, pega uma cesta e começa a escolher algumas verduras. Ela chega à sessão de cosméticos, percebe que ninguém está olhando e coloca um perfume no bolso. Ela vai em direção ao caixa.]
Atendente: Boa tarde.
Neide: Boa tarde.
Atendente: A senhora tem nota ou vai pagar à vista?
Neide: Vou pagar a vista mesmo.
[A funcionária começa a calcular o preço]
Atendente: Deu vinte cruzados, mais o perfume que a senhora colocou no bolso, deu o total de duzentos cruzados?
Neide: O que? Perfume? Que perfume moça?
Atendente: Nossas câmeras registraram o momento em que a senhora colocou o perfume no bolso do vestido.
[Ela fica envergonhada]
Neide: Ai meu Deus! Como eu tenho a cabeça voada. A senhora me desculpe, eu tenho essa mania de pegar as coisas sem ver e guardar.
[Ela retira o perfume do bolso e coloca sobe o balcão]
Neide: Eu vou levar só as verduras mesmo.
[Todos do supermercado olham para ela, que fica envergonhada]

Sitio de Antunes – Chegada - Tarde.
[Antunes, Antonio, Felipe e Bruno chegam até o sitio onde Antunes mantem crianças presas em treinamento. O sitio é cercado por um milharal já seco, cuja função é tampar a vista de um enorme casarão com muitos cômodos.]
Antunes: E então garotos? O que acharam da paisagem? Sejam bem-vindos ao seu novo lar. Doce lar!


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