12 de fevereiro de 2013

Capítulo 14 - Doce Urbano

 


NO CAPÍTULO ANTERIOR...
Circo La Mustafá - Manhã.
Antunes: O que me diz Antonio? Não é um ótimo cenário? Tente ligar as ideias: criança, compra e venda. Pra que lugar melhor para atrair crianças do que um circo? [Ele e Antonio riem alto]
[Giuliane está escondida vendo Antunes e Antônio, ela conversa sozinha]
Giuliane: É hoje que esse circo pega fogo, e eu quero ver esse bando de palhaços morrerem queimados!

AGORA...
Circo La Mustafá - Manhã.
[Leôncio aparece e se aproxima de Antunes, ele fala enquanto caminha]
Leôncio: Finalmente hein?! Por um instante eu pensei que o meu freguês mais assíduo tivesse desistido do negocio.
Antunes: E você acha que eu sou homem de deixar amigo na mão? Homem de desistir?
[Os dois dão um aperto de mãe e um abraço rápido. Continuam a conversar sobre negócios.] [Giuliane corre até o local onde Felipe e Bruno estão enjaulados, ela chega correndo.]
Giuliane: Garotos! Garotos!
Bruno: O que houve?
Giuliane: Ele chegou...
[Os garotos se desesperam]
Felipe: Ai meu Deus! E agora?
Giuliane: Consegui roubar a chave dele, sem que perceba! [Ela mostra a chave]
Bruno: Tira a gente rápido!
Giuliane: Espera... Vamos fazer um combinado, eu ajudo vocês e vocês me ajudam.
Felipe: O que quer?
Giuliane: Eu vou soltar vocês e então vocês pegarão dois galões de gasolinas que estão ali fora, vão espalhar por todo o circo e vão atear fogo. Mas sem serem vistos!
Felipe: Ótimo!
Bruno: Só isso?
[Ela vai falando enquanto destranca a jaula]
Giuliane: Quando colocarem fogo no circo, vocês verão dois cavalos que eu deixei na entrada. Eles já estão arrumados, vocês montam neles e fogem, correm o máximo que puder.
Bruno: Certo!
[Eles saem da jaula]
Giuliane: Agora vão! E cuidado para não serem visto, eu esperarei meu pai aqui!
[Eles correm, Felipe volta e se aproxima de Giuliane]
Felipe: Obrigado...
Giuliane: Não se preocupe comigo, fiz apenas minha obrigação.
[Ele a abraça e corre para fora. Giuliane entra na jaula, pega um caixote e o cobre de serragem. Ela sai da jaula e se esconde.]



Circo La Mustafá - Manhã.
[Antunes e Leôncio vão andando pelo circo enquanto conversam]
Leôncio: Porque veio em um caminho carregado de laranjas?
Antunes: Tenho o costume de encaixotar as crianças e cobrir as caixas com laranjas. Assim, ninguém desconfia e não somos barrados pela policia.
Leôncio: Bem pensado... E nunca foram descobertos pela policia não?
Antunes: Apenas uma vez. Mas demos um sossega leão nele e acabou não se lembrando de nada. Porque o mundo do tráfico é assim Leôncio, não podemos deixar escapar farpas do nosso nome.
Leôncio: Compreendo...
[Enquanto isso, os garotos cercam o circo com gasolina e ateiam fogo. Leôncio e Antunes percebem as labaredas de fogo se espalhando por trás do circo.]
Antunes: Que fumaça é aquela Leôncio?
Leôncio: Algum desgraçado colocou fogo no meu circo. [Leôncio se desespera] Antunes, me faça um favor, chegue até os camarins e peça ao pessoal para trazerem muita água e cessarem o fogo, tenho que ir até os garotos, antes que morram queimados.
Antunes: Tudo bem! [Antunes saca a arma] Caso eu pegue esse vândalo, não te peço nem permissão para mata-lo.
[Os dois saem correndo.]

Circo La Mustafá - Manhã.
[Antonio está dentro da caminhonete escutando música e olhando alguns CD’s, quando Felipe e Bruno passam correndo de cavalo. Ele percebe.]
Antônio: Ué, o circo pega fogo e esses garotinhos fazem é ir embora? [Ele volta a olhar os CD’s  e de repente se dá conta do que viu] Desgraçados! Aqueles são os garotos que o chefe iria levar. [Ele liga a caminhonete e começa a seguir]

Circo La Mustafá - Manhã.
[Leôncio chega correndo e chamando por Giuliane]
Leôncio: Giuliane! Ô Giuliane!
[Ele avista a jaula fechada, sem trancar, e os caixotes cobertos de serragem, ele então pensa que o caixote é na verdade os garotos tentando se esconder. Ele dá uma gargalhada.]
Leôncio: Mas vocês são trouxas hein?! Acham mesmo que eu não os veria aí, cobertos com essa serragem? [Ele se aproxima da jaula e puxa a porta, percebendo que não estava trancada] Quem abriu essa joça? [Ele entra na jaula, retira a serragem e percebe que é um caixote. Giuliane rapidamente o tranca dentro da jaula.]
Leôncio: Que desgraça é essa? Me tira daqui Giuliane.
Giuliane: De jeito nenhum... Chega de tanta covardia, de ser tão cafajeste. Vamos morrer assim, os dois, pai e filha.
Leôncio: Destranca essa jaula agora Giuliane. É uma ordem! Me destranca daqui!
Giuliane: Já disse que não... [Ela senta no chão e começa a recitar um verso]
Dizia o grandalhão: Senhoras e senhores, Muita atenção, Hoje tem espetáculo no final da rua das flores.
Leôncio: Para com esse verso idiota! Me dê logo essa chave Giuliane!
[O local onde eles estão começa a cair o telhado, o fogo cerca o local. Giuliane continua o verso.]
Giuliane: Veio um monte de artista,veio até domador, veio malabarista e um belíssimo ator.
[Leôncio começa a chorar e relembra da ultima vez que conversou com sua esposa. Eles vinham de uma viagem, apenas os dois dentro de um trailer.]
- Flashback -
Divina: Eu preciso confessar algo para você Leôncio.
Leôncio: Diga...
Divina: Na nossa estadia no Tocantis, nesses quatro meses em que o circo ficou instalado ali, eu conheci um rapaz... Mas novo que eu, era um mecânico, um jovem muito bonito.
[Leôncio não diz nada]
Divina: Ele me assediou, eu não resisti e acabei gostando, me apaixonei perdidamente. Foi algo diferente! Eu não achei justo eu esconder isso de um marido fiel como você, uma pessoa tão honesta. Me perdoe...
[Leôncio fica desesperado]
Leôncio: Traição Divina? Traição? Dos trinta e cinco anos que eu sou dono desse circo e que sou casado com você, eu nunca, nunca te trai. Jamais! E você me faz isso?
Divina: Eu precisava desabafar isso com você! Tenho que voltar para vê-lo, voltar para o Tocantins... [Ela faz uma pausa] Me engravidei dele.
[Leôncio fica conturbado com a informação]
Leôncio: Grávida? Grávida Divina? De outro homem?
Divina: Por favor, me perdoe... Me perdoe...
[Leôncio começa a chorar e enxuga as lágrimas no colarinho da camisa]
Leôncio: Eu sinto muito... Sinto mesmo...
[Ele abre a porta e a empurra com o pé. Não houve tempo de despedidas.]
- Flashback -
[Giuliane enche os olhos de lágrimas já sabendo que morrerá. O telhado pega fogo por inteiro e cai em cima de Giuliane e Leôncio. Eles morrem.]
[Do lado de fora, vários cômodos do circo pegam fogo, diversas pessoas, inclusive Antunes correm tentando salvar as ultimas coisas, jogando água]

Rua - Manhã.
[Felipe e Bruno correm de cavalo e Antonio os segue, eles tentam despista-lo, até que eles viram uma esquina onde não tem saída. Antonio para a caminhonete no meio, impedindo a saída. Ele pega um revólver no banco de trás da caminhonete e desce com um olhar malicioso.]
Antonio: E agora? Quem vai querer encarar o titio aqui? Se correr, o bicho pega, e se ficar... O bicho come!


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