NO CAPÍTULO ANTERIOR...
Circo La
Mustafá - Manhã.
Antunes:
O que me diz Antonio? Não é um ótimo cenário? Tente ligar as ideias: criança,
compra e venda. Pra que lugar melhor para atrair crianças do que um circo? [Ele e Antonio riem alto]
[Giuliane
está escondida vendo Antunes e Antônio, ela conversa sozinha]
Giuliane:
É hoje que esse circo pega fogo, e eu quero ver esse bando de palhaços morrerem
queimados!
AGORA...
Circo La
Mustafá - Manhã.
[Leôncio
aparece e se aproxima de Antunes, ele fala enquanto caminha]
Leôncio:
Finalmente hein?! Por um instante eu pensei que o meu freguês mais assíduo
tivesse desistido do negocio.
Antunes:
E você acha que eu sou homem de deixar amigo na mão? Homem de desistir?
[Os dois
dão um aperto de mãe e um abraço rápido. Continuam a conversar sobre negócios.]
[Giuliane corre até o local onde Felipe
e Bruno estão enjaulados, ela chega correndo.]
Giuliane:
Garotos! Garotos!
Bruno:
O que houve?
Giuliane:
Ele chegou...
[Os garotos
se desesperam]
Felipe:
Ai meu Deus! E agora?
Giuliane:
Consegui roubar a chave dele, sem que perceba! [Ela mostra a chave]
Bruno:
Tira a gente rápido!
Giuliane:
Espera... Vamos fazer um combinado, eu ajudo vocês e vocês me ajudam.
Felipe:
O que quer?
Giuliane:
Eu vou soltar vocês e então vocês pegarão dois galões de gasolinas que estão
ali fora, vão espalhar por todo o circo e vão atear fogo. Mas sem serem vistos!
Felipe:
Ótimo!
Bruno:
Só isso?
[Ela vai
falando enquanto destranca a jaula]
Giuliane:
Quando colocarem fogo no circo, vocês verão dois cavalos que eu deixei na
entrada. Eles já estão arrumados, vocês montam neles e fogem, correm o máximo
que puder.
Bruno:
Certo!
[Eles saem
da jaula]
Giuliane:
Agora vão! E cuidado para não serem visto, eu esperarei meu pai aqui!
[Eles
correm, Felipe volta e se aproxima de Giuliane]
Felipe:
Obrigado...
Giuliane:
Não se preocupe comigo, fiz apenas minha obrigação.
[Ele a
abraça e corre para fora. Giuliane entra na jaula, pega um caixote e o cobre de
serragem. Ela sai da jaula e se esconde.]
Circo La
Mustafá - Manhã.
[Antunes e Leôncio
vão andando pelo circo enquanto conversam]
Leôncio:
Porque veio em um caminho carregado de laranjas?
Antunes:
Tenho o costume de encaixotar as crianças e cobrir as caixas com laranjas.
Assim, ninguém desconfia e não somos barrados pela policia.
Leôncio:
Bem pensado... E nunca foram descobertos pela policia não?
Antunes:
Apenas uma vez. Mas demos um sossega leão nele e acabou não se lembrando de
nada. Porque o mundo do tráfico é assim Leôncio, não podemos deixar escapar
farpas do nosso nome.
Leôncio:
Compreendo...
[Enquanto
isso, os garotos cercam o circo com gasolina e ateiam fogo. Leôncio e Antunes
percebem as labaredas de fogo se espalhando por trás do circo.]
Antunes:
Que fumaça é aquela Leôncio?
Leôncio:
Algum desgraçado colocou fogo no meu circo. [Leôncio se desespera] Antunes, me faça um favor, chegue até os
camarins e peça ao pessoal para trazerem muita água e cessarem o fogo, tenho
que ir até os garotos, antes que morram queimados.
Antunes:
Tudo bem! [Antunes saca a arma] Caso
eu pegue esse vândalo, não te peço nem permissão para mata-lo.
[Os dois
saem correndo.]
Circo La
Mustafá - Manhã.
[Antonio
está dentro da caminhonete escutando música e olhando alguns CD’s, quando
Felipe e Bruno passam correndo de cavalo. Ele percebe.]
Antônio: Ué,
o circo pega fogo e esses garotinhos fazem é ir embora? [Ele volta a olhar os CD’s e de
repente se dá conta do que viu] Desgraçados! Aqueles são os garotos que o
chefe iria levar. [Ele liga a
caminhonete e começa a seguir]
Circo La
Mustafá - Manhã.
[Leôncio
chega correndo e chamando por Giuliane]
Leôncio: Giuliane!
Ô Giuliane!
[Ele avista
a jaula fechada, sem trancar, e os caixotes cobertos de serragem, ele então
pensa que o caixote é na verdade os garotos tentando se esconder. Ele dá uma
gargalhada.]
Leôncio:
Mas vocês são trouxas hein?! Acham mesmo que eu não os veria aí, cobertos com
essa serragem? [Ele se aproxima da jaula
e puxa a porta, percebendo que não estava trancada] Quem abriu essa joça? [Ele entra na jaula, retira a serragem e
percebe que é um caixote. Giuliane rapidamente o tranca dentro da jaula.]
Leôncio:
Que desgraça é essa? Me tira daqui Giuliane.
Giuliane:
De jeito nenhum... Chega de tanta covardia, de ser tão cafajeste. Vamos morrer
assim, os dois, pai e filha.
Leôncio:
Destranca essa jaula agora Giuliane. É uma ordem! Me destranca daqui!
Giuliane:
Já disse que não... [Ela senta no chão e
começa a recitar um verso]
Dizia o grandalhão: Senhoras e senhores, Muita atenção, Hoje tem espetáculo no final da rua das flores.
Dizia o grandalhão: Senhoras e senhores, Muita atenção, Hoje tem espetáculo no final da rua das flores.
Leôncio:
Para com esse verso idiota! Me dê logo essa chave Giuliane!
[O local
onde eles estão começa a cair o telhado, o fogo cerca o local. Giuliane
continua o verso.]
Giuliane:
Veio um monte de artista,veio até domador, veio malabarista e um belíssimo
ator.
[Leôncio
começa a chorar e relembra da ultima vez que conversou com sua esposa. Eles
vinham de uma viagem, apenas os dois dentro de um trailer.]
- Flashback -
Divina:
Eu preciso confessar algo para você Leôncio.
Leôncio:
Diga...
Divina:
Na nossa estadia no Tocantis, nesses quatro meses em que o circo ficou
instalado ali, eu conheci um rapaz... Mas novo que eu, era um mecânico, um
jovem muito bonito.
[Leôncio
não diz nada]
Divina:
Ele me assediou, eu não resisti e acabei gostando, me apaixonei perdidamente.
Foi algo diferente! Eu não achei justo eu esconder isso de um marido fiel como
você, uma pessoa tão honesta. Me perdoe...
[Leôncio
fica desesperado]
Leôncio:
Traição Divina? Traição? Dos trinta e cinco anos que eu sou dono desse circo e
que sou casado com você, eu nunca, nunca te trai. Jamais! E você me faz isso?
Divina:
Eu precisava desabafar isso com você! Tenho que voltar para vê-lo, voltar para
o Tocantins... [Ela faz uma pausa]
Me engravidei dele.
[Leôncio
fica conturbado com a informação]
Leôncio:
Grávida? Grávida Divina? De outro homem?
Divina:
Por favor, me perdoe... Me perdoe...
[Leôncio
começa a chorar e enxuga as lágrimas no colarinho da camisa]
Leôncio:
Eu sinto muito... Sinto mesmo...
[Ele abre a
porta e a empurra com o pé. Não houve tempo de despedidas.]
- Flashback -
[Giuliane
enche os olhos de lágrimas já sabendo que morrerá. O telhado pega fogo por
inteiro e cai em cima de Giuliane e Leôncio. Eles morrem.]
[Do lado de
fora, vários cômodos do circo pegam fogo, diversas pessoas, inclusive Antunes
correm tentando salvar as ultimas coisas, jogando água]
Rua - Manhã.
[Felipe e
Bruno correm de cavalo e Antonio os segue, eles tentam despista-lo, até que
eles viram uma esquina onde não tem saída. Antonio para a caminhonete no meio,
impedindo a saída. Ele pega um
revólver no banco de trás da caminhonete e desce com um olhar malicioso.]
Antonio:
E agora? Quem vai querer encarar o titio aqui? Se correr, o bicho pega, e se
ficar... O bicho come!
O trabalho Doce Urbano de Sadrack Oliveira Alves foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivados 3.0 Não Adaptada.
cada dia melhor né SadracK...
ResponderExcluirAmando Doce Urbano!
ResponderExcluirÉrica