Doce Urbano - Capítulo 1

Rio de Janeiro – Coletiva de Imprensa – Tarde.

[A top model Paolla Ferraço concede uma entrevista para diversos jornalistas a respeito da sua volta ao Brasil]

Repórter 1: Por que decidiu vir morar no Brasil?

Repórter 2: Tem planejamento de voltar para a Europa?

Paolla: Por favor, um de cada vez. A minha estadia no Brasil não será temporária, pelo contrário, é definitiva. Expondo as ideias com a minha assessora, Marion, eu achei por bem que está na hora de decretar a minha aposentadoria da profissão de modelo, deixar esse ramo da carreira artística.

Repórter 2: E qual o motivo da aposentadoria?

Paolla: O motivo eu prefiro manter em sigilo, oculto aos olhos públicos até que tudo se resolva.

Repórter 3: E quanto a seus futuros projetos?

Paolla: Eu continuarei administrando a minha empresa, Doce Urbano. Ela cresce aceleradamente nas produções e já é considerada a maior em produção e exportação da moda unissex, sem contar que é algo inovador no Brasil. Eu quero estar a par de tudo que acontece na empresa.

Repórter 4: Paolla, o que você tem a dizer a respeito dos que te incriminam sobre a morte de seu marido? O empresário Juaréz Ferraço?

[Marion cochicha algo no ouvido de Paolla e ela se retira da sala. Marion fala em publico.]

Marion: A entrevista está cancelada.

Repórter 4: E a resposta da minha pergunta?

Marion: Pague um bom preço rapaz, e você a terá.

[Ela se retira e os jornalistas começam a discutir entre si]

Rio de Janeiro – Casa de Caio Poncé – Tarde.

[Caio chega de uma conferência de moda e encontra vários adolescentes em sua casa, bebendo e fumando. Som alto e muita comida. Ele desliga o som.]

Caio: Eu posso saber que zona é essa daqui?

[Todos param e ficam perplexos]

Caio: Quem deu a autorização pra vocês transformarem a minha casa nessa algazarra?

Naomi: Fomos nós tio... Pensamos que só voltaria de Paris amanhã à noite e como estávamos sozinhos resolvi convidar uns amigos.

Caio: Ah,tinha que ser! Eu saio por um instante e vocês transformam minha casa nesse circo! E vocês? Estão fazendo o que aí parados? Vamos! Fora de casa! Saiam!

[Os adolescentes começam a sair]

Mauricio: Você não podia ter feito isso! Aqueles adolescentes eram nossos amigos!

Caio: Amigos? Fique pobre durante um mês e conte no dedo quantos daqueles ali te visitarão. Eu tirei a conclusão que não posso confiar em vocês. Tinha uma reunião com uma consultora de moda daqui a duas horas, e agora? Como vou encontra-la aqui se a casa está essa baderna?

Mauricio: Você é um insensato... Vai morrer assim, à míngua e sozinho.

[Mauricio fixa o olhar nos olhos dele, irritado, sobe as escadas e vai para o quarto] [Caio pega um cigarro do chão]

Caio: Vocês estavam fumando?

Naomi: Foram só algumas tragadas, no máximo dois cigarros pra cada um.

Caio: O que está acontecendo? Os pais de vocês morrem e ao invés de ao menos ficarem de luto vocês decidem se rebelar?

Naomi: Você adora isso, não é? Esfregar na nossa cara que nós vivemos na sua casa de favor, que perdemos nossos pais.

Caio: Não é bem assim, Naomi.

Naomi: Não precisa se explicar. Tá certo que você é o estilista famoso, o bem sucedido, e nós somos os órfãos.

[Ela sobe as escadas com os olhos cheios de lágrimas]

Caio: Adolescentes... Onde se meteu o Teodoro quando eu mais preciso dele?

Toque de Afrodite – Reunião Empresarial – Tarde.

[Diversos funcionários estão numa reunião para eleger o novo gerente empresarial, na empresa Toque de Afrodite, onde Bernardo Campos é o dono]

Bernardo: É com grande prazer, que eu anuncio o mais novo gerente empresarial da Toque de Afrodite. Aquele que a partir de hoje, será o meu braço direito. Palmas, para Bruno Luka.

[Todos batem palmas e ele se levanta]

Bruno: Obrigado, muito obrigado. Bem... Há quatorze anos eu era um simples faxineiro de rodoviária, nem passava pela minha cabeça estar aqui hoje, num futuro tão distante. Me passou pela cabeça fazer uma faculdade, eu fiz e hoje graças ao doutor Bernardo eu posso dizer que sou um bom empreendedor. E é com imensa felicidade que eu recebo esse cargo de gerente empresarial.

[Todos batem palmas] [Bernardo se aproxima para conversar com Bruno]

Bernardo: Vim te dar os parabéns pessoalmente, esse cargo você mereceu.

Bruno: Muito obrigado.

Bernardo: Eu sei que tem pouco tempo que você trabalha aqui mas...

[Bruno corta a fala]

Bruno: Um mês pra mim não é pouco tempo senhor.

[Marcello se aproxima]

Marcello: Com licença doutor Bernardo. Posso roubar o Bruno um momentinho?

Bernardo: Fique a vontade.

[Marcello puxa Bruno até a sua sala]

Marcello: Cara, que sorte hein?! Quem diria que você seria apresentado para gerente?

Bruno: Nem eu estou acreditando... É tipo assim, um sonho de infância sabe?

Marcello: Sei... Nem eu que trabalho aqui há cinco anos, nunca sai do setor das finanças.

Bruno: A confiança do Bernardo é depositada toda em você, afinal, quem cuida do dinheiro da Toque de Afrodite, é você.

Marcello: Nisso você tem razão. Que tal se comemorarmos? Conheço uma boate, da hora!

Bruno: Não vai dar, minha mãe vem de Alagoas hoje. Tenho que busca-la no aeroporto.

Marcello: Tudo bem então. Eu vou sozinho, se caso você mudar de ideia, eu estou te esperando naquela boate das minas do pole dance, a Intense.

Bruno: Intense... Ótimo! Caso eu mudar de ideia, pode deixar que eu irei.

[Marcello sai. Bruno, sentado na cadeira, coloca os pés sobre a mesa e fica pensativo]

Rio de Janeiro – Cartomante – Anoitecendo.

[Alguém, encapuzado, consulta uma vidente]

- Eu matei... Matei mas me falta coragem para admitir o erro. Posso acabar com a minha profissão e deixar tudo ir por água abaixo.

Vidente: E o que deseja?

- Quero saber... Se há uma forma, algo, uma possibilidade de alguém ser incriminada no meu lugar. Não posso passar o resto dos meus anos mofando numa prisão.

Vidente: E quem você quer que seja preso em seu lugar?

- Ela... Paolla... Paolla Ferraço, a modelo.

Casa de Paolla Ferraço - Sala – Tarde.

[Paolla está no sofá folheando uma revista, Marion se aproxima]

Marion: Paolla há uma mulher na porta e quer falar com você. Os seguranças me telefonaram e disseram que ela estava fazendo muito escândalo nos portões, achei melhor deixa-la entrar. Ela disse que é uma conhecida sua...

Paolla: Tudo bem... Vou lá ver.

[Ela levanta e segue em direção à entrada. Ela se assusta.]

Paolla: Alexia?

Alexia: E então, querida? Saudades da antiga vida? Você está com uma vida muito boa, casa chique, hein? Mas espero que não tenha se esquecido da sua antiga vida. Quando morou lá em casa, lembra?

Rio de Janeiro - Rua – Noite.

[Marcello anda sozinho por uma viela escura e pouco movimentada. Ele percebe que está sendo seguido]

Marcello: Tem alguém aí? [Ninguém responde] Não tem graça... Eu vou chamar a policia. [Ele escuta um barulho] Quem está aí? Seja lá quem for, eu já vou avisando hein?! Eu chamo a policia!

[Alguém chega por trás e tapa a boca dele]

- Fecha essa sua boca e fica quieto. Quietinho!

[Um carro para]

- Entra no carro! Rápido! Cala a boca e entra no carro!

Marcello: Não me machuca! Por favor, não me machuca!

- Cala a boca e entra, porra!

[Ele entra no carro]

Continua.../Fim do Capítulo 1

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