NO CAPÍTULO ANTERIOR...
Rio de
Janeiro – Rua – Manhã.
Antunes:
Que tal se eu te oferecer uma boa gorjeta? [Ele
faz uma pausa] Vamos afogar o ganso.
Zumira:
Não entendi. Como disse?
Antunes:
Te ofereço trezentos cruzados para que você entre nesse carro agora e vá direto
ao motel comigo. E então, topa? É pegar ou largar.
AGORA...
Rio de
Janeiro – Rua – Manhã.
[Zumira
fica sem palavras diante da proposta de Antunes]
Antunes:
E então? O que me diz? Aceita ou não?
[Rola uma
lágrima sobre a face do rosto de Zumira. Antunes começa a ficar impaciente.]
Antunes:
Anda minha filha! Decide! Vai ou não?
[Zumira
passa a mão sobre os olhos, enxugando a lágrima]
Zumira:
Tudo bem... Eu aceito...
Antunes:
Ótimo! É assim que se diz...
[Ela joga
os panfletos do supermercado no chão e entra no carro]
Rio de
Janeiro – Rua – Manhã.
[Felipe e
Bruno caminham em uma rua fechada, cercada de bares, pessoas fumando, mulheres
se prostituindo em plena luz do dia]
Felipe: Bruno,
você tem certeza que estamos indo pelo caminho certo? Não acho que a mãe viria
para cá...
Bruno:
Eu não sei Felipe, nunca vim aqui antes.
[Em uma
casa com um corredor pequeno, um casal se beijam, um deles conversa com Felipe
e Bruno]
Vick:
Ei! Psiu! Garotos!
[Eles
olham]
Vick:
Vem aqui vem? Tenho um presente para vocês e tenho certeza que não vão se
arrepender.
[Felipe vai
indo em direção a eles quando Bruno o puxa pela mão]
Bruno:
Enlouqueceu Felipe? Não confie nessas pessoas.
Felipe:
Por que Bruno? Você nem os conhece...
Bruno:
Deixa de ser otário. Vem comigo!
[Os dois
seguem caminhando]
Aterro Tenente
Baronel
Casa de Zumira
e Aristides – Manhã.
[Aristides
está bêbado e percebe que sua pinga acabou]
Aristides:
Desgraça de pinga que nem pra durar... Desgraçada dos infernos!
[Ele joga a
garrafa no chão]
Aristides:
Zumira, Zumira! Se eu te pego, eu te envergo sua vadia! Não me deixe por a mão
em você, por que eu juro que eu não solto até te matar.
[Alguém
bate palma do lado de fora]
Aristides:
Quem é o desgraçado que tá fazendo essa zona na porta da minha casa? Não vê que
o cabaré é na próxima rua?
[Ele ri
alto e levanta cambaleando, meio zonzo. Ele sai do lado de fora e Miriã – uma
mulher conhecida no aterro por se prostituir – é quem está chamando.]
Aristides:
O que você quer? Se veio atrás da Zumira pode dar meia volta... Aquela preta
vagabunda não está em casa.
Miriã:
Eu não vim atrás dela... Na verdade, eu vim te procurar.
Aristides:
Tô devendo algo pra você?
[Ela coloca
a mão na boca dele, fazendo sinal para ele calar]
Miriã:
Não! Lógico que não... Imagina... Não quer se divertir um pouco não?
[Ele tira a
mão dela da boca]
Aristides:
Divertir? Eu não sou mais criança Miriã.
Miriã:
E quem falou em brincar? Eu estou disposta a fazer um precinho especial pra
você. Só pra você. Mais ninguém! [Ela
começa a levantar a saia] Vai desperdiçar um conteúdo desses?
[Aristides
se surpreende]
Aristides:
Tá falando sério neguinha?
Miriã:
E porque não estaria?
Aristides:
E quanto tu vai querer?
Miriã: Cem
cruzados pelo serviço completo. Completíssimo!
[Aristides
se espanta com o valor]
Aristides:
Só isso? [Ele olha para o céu] Ó
Jesus, tudo que eu mais pedi a Deus! [Ele
dá altas gargalhadas] Espere só um minuto Miriã, vou pegar o dinheiro,
entra pra cá e vá se aprumando.
[Ele entra
na casa e Miriã conversa sozinho]
Miriã:
Fácil... Fácil... Fisgar otários é comigo mesma!
[Ela entra]
[Aristides, tenso, procura insensatamente por algo na casa, até que vai ao
quarto dos garotos e acha um cofre dentro de uma caixa de papelão]
Aristides:
Achei você precioso! [Ele ri]
[Ele coloca
o cofre em cima da mesa]
Aristides:
Está aqui Miriã... Cem cruzeiros, certinho.
Miriã:
Como posso confiar que aí tem cem cruzeiros mesmo.
[Ele quebra
o cofre em cima da mesa e cai diversas moedas, muitas moedas]
Aristides:
Satisfeita?
Miriã:
Hum...
Aristides:
O que foi? O dinheiro tá aí, agora cumpra o trato.
Miriã:
Cadê seus filhos? Eles não vão nos incomodar não né?
Aristides:
Óbvio que não. Os pequenos estão deitados no quarto, dormindo.
Miriã:
Tem certeza? Vá lá e confira novamente, daí a gente começa nossas brincadeiras.
Aristides:
Ai meu Deus! Tudo bem, eu vou, eu vou...
Motel - Quarto
– Manhã.
[Antunes e
Zumira entram no quarto]
Zumira:
Vai ser rápido ne?
[Antunes dá
uma leve risadinha]
Antunes:
Vai depender... Não sei da potência que os garotos vão ter.
[Zumira se
assusta]
Zumira:
Garotos? Mas que garotos?
Antunes:
Não te contei não? [Antunes assovia
chamando os garotos] Podem entrar meninos.
[Quatro
garotos, de dezesseis a dezoito anos saem do banheiro de sunga]
Zumira:
Peraê! Que brincadeira de mau gosto é essa? O que essas crianças estão fazendo
aqui?
Antunes:
Crianças? Por favor, eles já são grandes o suficiente para terem sua vida
sexual ativa. São meus discípulos, alunos... Após anos treinando eles, tá na
hora de dar um pouco de prazer, então resolvi contratar uma prostituta.
[Zumira
fica tensa]
Zumira:
Mas eu não sou prostituta nenhuma! E você não disse nada de ter que aguentar
quatro adolescentes.
Antunes:
Se você é prostituta ou não, isso não me importa. E não são quatro garotos, são
cinco, eu também vou participar. E além do mais, trato é trato. [Ele tranca a porta e coloca a chave no
bolso] Portanto, você fica. Pode ir tirando as sungas rapazes, hoje o bicho
vai pegar.
O trabalho Doce Urbano de Sadrack Oliveira Alves foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivados 3.0 Não Adaptada.
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