9 de fevereiro de 2013

Capítulo 12 - Doce Urbano



 

NO CAPÍTULO ANTERIOR...
Circo La Mustafá – Noite.
[Felipe se assusta com o barulho de algo caindo. Tudo fica calmo novamente. Ele então percebe que alguém está acordado, não sabe quem, com a sensação de quem alguém o está vigiando. Ele então sussurra.]
Felipe: Tem alguém aí?
[Nada se movimenta. Alguém, que estava atrás dele coloca a mão fortemente sobre seu ombro. Ele se assusta]

AGORA...
Circo La Mustafá – Noite.
[Felipe abre a boca para gritar, mas antes que pudesse balbuciar algum som, a pessoa tapa a boca dele com a mão. Ele então vira para traz e se alivia ao ver que é Giuliane, ela retira a mão da boca dele. Eles conversam baixo.]
Felipe: Quer me matar do coração? Como você chega assim de mansinho e toque em mim desse jeito?
Giuliane: Ficou com medo foi? Medroso...
Felipe: Não tenho medo, só gosto de ter segurança.
Giuliane: Quero te mostrar uma coisa. [Ela segura na mão dele] Vem comigo! [Os dois saem na chuva]


Rio de Janeiro  – Noite
[Zumira caminha por uma rua deserta, toda molhada, a chuva cai sem cessar, Neide está logo atrás com um guarda-chuva]
Neide: Zumira! Me espere amiga! Vamos voltar pra casa, pro aterro! Lá é o seu lugar mulher!
Zumira: Que se dane aquela tapera velha, aquele lixo! Lixo! Aquilo é o inferno... Destruidor!
[Ela cai em um pranto de choro. Neide se aproxima e tenta ajuda-la, abraça-la. Zumira, eufórica, derruba Neide a puxa pelos cabelos pelo asfalto, Neide consegue se soltar e se levantar.]
Neide: Ficou doida Zumira? Enlouqueceu? [Há uma pausa] Eu estou te desconhecendo...
Zumira: Você é uma piranha... Biscate! Prostituta! Pulava a cerca com o meu marido, acha que eu não sei?
Neide: Do que você está falando?
Zumira: Você e a Miriã, as periguetes do morro! Periguetes do lixo, da falta de vergonha e da desgraça! Meu marido morreu Neide, morreu, e tem dedo seu nessa história. Eu vou atrás da Miriã até mata-la, depois disso, eu volto, descubro seu rolo nessa historia e te mato. Eu te mato! Me ouviu bem?
[Neide começa a chorar, vira e vai embora.]
Zumira: Isso! Muito bem! Vai embora mesmo, covarde! Covarde!

Circo La Mustafá – Noite.
[Giuliane leva Felipe até o local do circo onde são guardadas as fantasias. Ela seca o cabelo dele com uma toalha]
Felipe: Como você sabia que eu estava acordado?
Giuliane: Eu não sabia... Fiquei esperando meu pai dormir pra ir te buscar.
Felipe: Pra que todas essas fantasias?
Giuliane: São usadas pelos palhaços nas apresentações e também quando há alguma peça teatral.
[Felipe permanece calado]
Giuliane: Eu... Te chamei aqui por que quero te mostrar algo.
Felipe: O que?
[Ela pega um pequeno baú, retira uma chave de entre os seios, o abre e pega algumas fotos]
Giuliane: Esse é meu irmão... Acho você muito parecido com ele. Ele era muito bonito, assim como você.
Felipe: Era?
[Giuliane abaixa a cabeça, tristonha]
Giuliane: Perdemos ele e minha mãe.
Felipe: Como?
[Giuliane fica calado e Felipe se constrange]
Felipe: Me desculpe. Eu não queria te magoar, às vezes faço perguntas idiotas.
Giuliane: Não... Tudo bem... Minha mãe era uma grande estrela de circo, domadora de leões. Durante uma viagem nossa, transferindo o circo de um local para o outro ela caiu do trailer e foi atropelada por outros caminhões do circo que estavam atrás. Um mago, que trabalhava no circo, afirmou ter visto meu pai a empurrando para fora do trailer.
Felipe: E onde está o mago?
Giuliane: Morreu brutalmente assassinado a tiros. Nunca descobriram o assassino, nem do mago e nem da minha mãe.
Felipe: E seu irmão?
Giuliane: Já meu irmão... Ele simplesmente desapareceu do circo. Depois de quatro meses que a minha mãe morreu, meu irmão desapareceu, não deixou nem rastro.
Felipe: E nunca mais o viram?
Giuliane: Uma dançarina do circo o avistou há alguns anos atrás em um carro luxuoso, ela tentou para-lo, mas... Foi em vão.
Felipe: Sinto muito.
Giuliane: Ao menos ainda há alguma esperança de que ele esteja vivo. Nunca se sabe...

Rio de Janeiro - Rua – Noite.
[Antunes e Antônio estão de carro a procura de Zumira, eles avistam ela no meio da rua, na chuva]
Antunes: É aquela doida varrida ali. Pare o carro perto dela.
[Antônio obedece à ordem. Antunes desce do carro e para de frente à Zumira. Não há mais ninguém na rua. Zumira ainda chorando, apavora ao ver Antunes e tenta correr, ele a segura pelo vestido e a joga no chão]
Antunes: Paradinha! Aonde você pensar que vai? A brincadeira está só começando!
Zumira: Me deixe ir embora. Já disse que não sou prostituta nenhuma, não vou me vender pra você.
Antunes: E quem aqui falou em comer carne de quinta? Eu quero é algo bem mais precioso.
Zumira: Você não vai conseguir nada. Nada! [Ela grita e ele dá um tapa no rosto dela. Ela está deitada no chão e ele em pé]
Antunes: Que tal a gente brincar de Deus? A gente não, ou melhor, eu brincar de Deus?!
Zumira: Do que você está falando?
Antunes: Deus, o chefão lá de cima, dá a vida e a tira quando bem entende. E eu?
[Zumira fica calada]
Antunes: Eu também sou um chefão, se Deus é o Todo Poderoso do céu, eu sou o Todo Poderoso da terra. É uma pena que eu não dê vidas. Mas eu as tiro! [Ele dá uma gargalhada]
Zumira: Não me mate! Por favor, não me mate! Eu faço tudo que você quiser. Por favor!
[Ela implora. Ele abaixa, se aproximando dela e cochicha em seu ouvido]
Antunes: Me faz um favor? Se encontrar o capeta lá no inferno e ele estiver desocupado, pede ele pra dar uma passadinha aqui na Terra. Um calorzinho de vez em quando faz bem, chega de tanta chuva!
[Ele se levanta e dá um tiro no lado direito do peito dela, ela dá um grito, ele entra rapidamente dentro do carro]
Antunes: Acelera Antônio, acelera!
[Eles saem. Zumira fica no chão, se contorcendo.]

Circo La Mustafá – Madrugada.
[Felipe entra no local onde todos estão dormindo em redes, ele acorda Bruno silenciosamente e leva o irmão para fora e conversam em baixo tom.]
Bruno: O que aconteceu? Que horas são?
Felipe: Não importa que horas são. Me escute! Acabei de encontrar com a Giuliane.
Bruno: Giuliane? À essa hora?
Felipe: Ela me contou uma história, tem tudo a ver com o que você me disse.
Bruno: Psiu! [Eles faz sinal de silêncio] Vamos para outro lugar, aqui podem nos ouvir.
[Eles saem e vão a um lugar mais afastado, perto dos camarins]
Bruno: E então?
Felipe: O irmão da Giuliane simplesmente desapareceu do circo depois de alguns meses que a mãe morreu, ele tinha quase a nossa idade. O que você deduz com isso?
Bruno: Espera aí... [Bruno fica pensativo] Tem certeza que é isso que eu estou pensando?
Felipe: Óbvio! Aquele monstro do Seu Leôncio vai nos vender como vendeu o próprio filho.
[Leôncio sai de detrás de uma das cortinas do camarim de onde escutava a conversa, com uma cara maliciosa]
Leôncio: Posso participar da conversa, rapazes?
[Eles se assustam]


Licença Creative Commons

2 comentários:

  1. Doce urbano...
    muito bom mesmo,parabéns Sadrack
    GU

    ResponderExcluir
  2. Adorando Doce Urbano! Esperando aciosamente pela volta da Paolla

    ResponderExcluir