NO CAPÍTULO ANTERIOR...
Circo La
Mustafá – Noite.
[Felipe se
assusta com o barulho de algo caindo. Tudo fica calmo novamente. Ele então
percebe que alguém está acordado, não sabe quem, com a sensação de quem alguém
o está vigiando. Ele então sussurra.]
Felipe:
Tem alguém aí?
[Nada se
movimenta. Alguém, que estava atrás dele coloca a mão fortemente sobre seu
ombro. Ele se assusta]
AGORA...
Circo La
Mustafá – Noite.
[Felipe
abre a boca para gritar, mas antes que pudesse balbuciar algum som, a pessoa
tapa a boca dele com a mão. Ele então vira para traz e se alivia ao ver que é
Giuliane, ela retira a mão da boca dele. Eles conversam baixo.]
Felipe:
Quer me matar do coração? Como você chega assim de mansinho e toque em mim
desse jeito?
Giuliane:
Ficou com medo foi? Medroso...
Felipe:
Não tenho medo, só gosto de ter segurança.
Giuliane:
Quero te mostrar uma coisa. [Ela segura
na mão dele] Vem comigo! [Os dois
saem na chuva]
Rio de
Janeiro – Noite
[Zumira
caminha por uma rua deserta, toda molhada, a chuva cai sem cessar, Neide está
logo atrás com um guarda-chuva]
Neide:
Zumira! Me espere amiga! Vamos voltar pra casa, pro aterro! Lá é o seu lugar
mulher!
Zumira:
Que se dane aquela tapera velha, aquele lixo! Lixo! Aquilo é o inferno...
Destruidor!
[Ela cai em
um pranto de choro. Neide se aproxima e tenta ajuda-la, abraça-la. Zumira,
eufórica, derruba Neide a puxa pelos cabelos pelo asfalto, Neide consegue se
soltar e se levantar.]
Neide: Ficou
doida Zumira? Enlouqueceu? [Há uma pausa] Eu estou te desconhecendo...
Zumira:
Você é uma piranha... Biscate! Prostituta! Pulava a cerca com o meu marido,
acha que eu não sei?
Neide:
Do que você está falando?
Zumira:
Você e a Miriã, as periguetes do morro! Periguetes do lixo, da falta de
vergonha e da desgraça! Meu marido morreu Neide, morreu, e tem dedo seu nessa
história. Eu vou atrás da Miriã até mata-la, depois disso, eu volto, descubro
seu rolo nessa historia e te mato. Eu te mato! Me ouviu bem?
[Neide
começa a chorar, vira e vai embora.]
Zumira:
Isso! Muito bem! Vai embora mesmo, covarde! Covarde!
Circo La
Mustafá – Noite.
[Giuliane
leva Felipe até o local do circo onde são guardadas as fantasias. Ela seca o
cabelo dele com uma toalha]
Felipe:
Como você sabia que eu estava acordado?
Giuliane:
Eu não sabia... Fiquei esperando meu pai dormir pra ir te buscar.
Felipe:
Pra que todas essas fantasias?
Giuliane:
São usadas pelos palhaços nas apresentações e também quando há alguma peça
teatral.
[Felipe
permanece calado]
Giuliane:
Eu... Te chamei aqui por que quero te mostrar algo.
Felipe:
O que?
[Ela pega
um pequeno baú, retira uma chave de entre os seios, o abre e pega algumas
fotos]
Giuliane:
Esse é meu irmão... Acho você muito parecido com ele. Ele era muito bonito,
assim como você.
Felipe:
Era?
[Giuliane
abaixa a cabeça, tristonha]
Giuliane:
Perdemos ele e minha mãe.
Felipe:
Como?
[Giuliane
fica calado e Felipe se constrange]
Felipe:
Me desculpe. Eu não queria te magoar, às vezes faço perguntas idiotas.
Giuliane:
Não... Tudo bem... Minha mãe era uma grande estrela de circo, domadora de
leões. Durante uma viagem nossa, transferindo o circo de um local para o outro
ela caiu do trailer e foi atropelada por outros caminhões do circo que estavam
atrás. Um mago, que trabalhava no circo, afirmou ter visto meu pai a empurrando
para fora do trailer.
Felipe:
E onde está o mago?
Giuliane:
Morreu brutalmente assassinado a tiros. Nunca descobriram o assassino, nem do
mago e nem da minha mãe.
Felipe:
E seu irmão?
Giuliane: Já
meu irmão... Ele simplesmente desapareceu do circo. Depois de quatro meses que
a minha mãe morreu, meu irmão desapareceu, não deixou nem rastro.
Felipe:
E nunca mais o viram?
Giuliane:
Uma dançarina do circo o avistou há alguns anos atrás em um carro luxuoso, ela
tentou para-lo, mas... Foi em vão.
Felipe:
Sinto muito.
Giuliane:
Ao menos ainda há alguma esperança de que ele esteja vivo. Nunca se sabe...
Rio de Janeiro
- Rua – Noite.
[Antunes e Antônio
estão de carro a procura de Zumira, eles avistam ela no meio da rua, na chuva]
Antunes:
É aquela doida varrida ali. Pare o carro perto dela.
[Antônio
obedece à ordem. Antunes desce do carro e para de frente à Zumira. Não há mais
ninguém na rua. Zumira ainda chorando, apavora ao ver Antunes e tenta correr,
ele a segura pelo vestido e a joga no chão]
Antunes:
Paradinha! Aonde você pensar que vai? A brincadeira está só começando!
Zumira:
Me deixe ir embora. Já disse que não sou prostituta nenhuma, não vou me vender
pra você.
Antunes:
E quem aqui falou em comer carne de quinta? Eu quero é algo bem mais precioso.
Zumira:
Você não vai conseguir nada. Nada! [Ela
grita e ele dá um tapa no rosto dela. Ela está deitada no chão e ele em pé]
Antunes:
Que tal a gente brincar de Deus? A gente não, ou melhor, eu brincar de Deus?!
Zumira:
Do que você está falando?
Antunes:
Deus, o chefão lá de cima, dá a vida e a tira quando bem entende. E eu?
[Zumira
fica calada]
Antunes:
Eu também sou um chefão, se Deus é o Todo Poderoso do céu, eu sou o Todo
Poderoso da terra. É uma pena que eu não dê vidas. Mas eu as tiro! [Ele dá uma gargalhada]
Zumira:
Não me mate! Por favor, não me mate! Eu faço tudo que você quiser. Por favor!
[Ela
implora. Ele abaixa, se aproximando dela e cochicha em seu ouvido]
Antunes:
Me faz um favor? Se encontrar o capeta lá no inferno e ele estiver desocupado,
pede ele pra dar uma passadinha aqui na Terra. Um calorzinho de vez em quando
faz bem, chega de tanta chuva!
[Ele se
levanta e dá um tiro no lado direito do peito dela, ela dá um grito, ele entra
rapidamente dentro do carro]
Antunes:
Acelera Antônio, acelera!
[Eles saem.
Zumira fica no chão, se contorcendo.]
Circo La
Mustafá – Madrugada.
[Felipe
entra no local onde todos estão dormindo em redes, ele acorda Bruno
silenciosamente e leva o irmão para fora e conversam em baixo tom.]
Bruno: O
que aconteceu? Que horas são?
Felipe:
Não importa que horas são. Me escute! Acabei de encontrar com a Giuliane.
Bruno:
Giuliane? À essa hora?
Felipe:
Ela me contou uma história, tem tudo a ver com o que você me disse.
Bruno:
Psiu! [Eles faz sinal de silêncio] Vamos
para outro lugar, aqui podem nos ouvir.
[Eles saem
e vão a um lugar mais afastado, perto dos camarins]
Bruno:
E então?
Felipe:
O irmão da Giuliane simplesmente desapareceu do circo depois de alguns meses
que a mãe morreu, ele tinha quase a nossa idade. O que você deduz com isso?
Bruno:
Espera aí... [Bruno fica pensativo]
Tem certeza que é isso que eu estou pensando?
Felipe:
Óbvio! Aquele monstro do Seu Leôncio vai nos vender como vendeu o próprio
filho.
[Leôncio
sai de detrás de uma das cortinas do camarim de onde escutava a conversa, com
uma cara maliciosa]
Leôncio:
Posso participar da conversa, rapazes?
[Eles se
assustam]
O trabalho Doce Urbano de Sadrack Oliveira Alves foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivados 3.0 Não Adaptada.
Doce urbano...
ResponderExcluirmuito bom mesmo,parabéns Sadrack
GU
Adorando Doce Urbano! Esperando aciosamente pela volta da Paolla
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