8 de fevereiro de 2013

Capítulo 11 - Doce Urbano



 

NO CAPÍTULO ANTERIOR...
Circo La Mustafá – Noite.
[Felipe está deitado em um banco, pensativo, Bruno chega correndo, apavorado]
Bruno: Felipe! Felipe!
[Felipe levanta assustado]
Felipe: Que afobamento é esse? O que foi?
Bruno: Vão nos vender Felipe! Nos vender!
Felipe: Vender? Quem?
Bruno: O Seu Leôncio, dono do circo, escutei ele dizendo que vai nos vender. Vender Felipe!
[Felipe se assusta com a noticia]

AGORA...
Circo La Mustafá – Noite.
[Felipe se assusta com a noticia]
Felipe: Tá falando sério Bruno?
Bruno: Seriíssimo cara... Eles querem nos vender.
Felipe: Isso não pode ser verdade.
Bruno: O pior é que é... E vai saber pra quem eles vão nos vender... Acho que nos metemos em uma roubada.
Felipe: Não podemos ir embora daqui Bruno.
Bruno: Como não? Ficou doido?
Felipe: Não podemos. Se o Seu Leôncio manda seguir a gente, mata o pai e a mãe.
[Bruno se assusta]




Aterro Tenente Baronel
Casa de Zumira e Aristides – Noite.
[Zumira está ajoelhada sob as cinzas no local, diversas pessoas circulam, curiosos observam e jornalistas cobrem a matéria]
Zumira: Aristides! [Ela chora muito] Meu Deus! Por quê? Por quê?
Neide: Zumira, se levanta mulher. Tá todo mundo te olhando.
[Ela se levanta nervosa, eufórica]
Zumira: Que olhem! Quer olhar? Olhem! Invejem a minha desgraça!
[Ela se aproxima de uma jornalista que estava dando a matéria ao vivo e pega o microfone, olhando para a câmera, gritando e chorando]
Zumira: Isso é uma vergonha! Uma vergonha para esse país de bosta que é o Brasil. Autoridades que não fazem nada! Nada! Estamos jogados na joça desse lixão à Deus dará, com essas víboras do governo nos comendo vivos! Vivos! Meu marido morreu por causa da desgraça desse país que não faz nada. Impostores!
[A repórter tenta tomar o microfone, mas ela não deixa, mais pessoas vão se aproximando]
Zumira: Eu ainda não terminei... Enquanto eu, mulher batalhadora, tive que me vender pra um bando de jovens tarados e um velho viciado. [Ela se emociona] Tive que me prostituir pra tratar a minha família, chego em casa e me deparo com esse vexame, um pai de família morto com seus seis filhos. É uma vergonha Brasil! Quero esfregar essa bosta que os políticos fizeram na cara de vocês.
[Neide puxa a amiga e a repórter consegue estabilizar a matéria]
Neide: Ficou doida Zumira? Se acalme... Se rebelar a essa hora do acampamento não vai adiantar muita coisa.
Zumira: Você não está sentindo o que eu estou sentindo. [Ela grita] Não está! Não foi você quem perdeu toda a família!
Neide: Calma... A policia já foi atrás da Miriã.
Zumira: Miriã? O que aquela vadia tem a ver com isso?
Neide: Alguns moradores avistaram ela saindo da sua casa, minutos antes do incêndio.
Zumira: Vadia! Vadia! Se eu pego aquela vaca gorda eu mato ela.
[Zumira sai apressadamente, Neide vai atrás tentando acalma-la]

Pensão - Quarto – Noite.
[Antônio, capanga de Antunes, assiste a TV enquanto come uma marmita e vê o noticiário]
- Jornal –
Jornalista: Uma mulher, cujo nome ainda não foi identificado, invadiu as câmeras de uma famosa rede nacional de televisão e fez revelações comprometedoras sobre a morte do marido. Segundo a autora do escândalo, ela se prostituiu para um poderoso homem, afim de conseguir dinheiro para sustentar a familia.
[A foto de Zumira é mostrada]
- Jornal –
Antônio: Ih cara... Não é que a mulher botou mesmo a boca no trombone? [Ele grita o nome de Antão] Antão! Ô Antão! Corre aqui cara!
[Antão sai apressado do banheiro, com a toalha enrolada na cintura]
Antão: Que diabo tu tá com essa gritaria cara? Pensei que fosse os tira barrando aê...
Antônio: Tu tá no noticiário!
Antão: Que?
Antônio: Aquela nega lá tava falando de você. Não foi ela quem você deu uns amassos?
[Antão a reconhece e muda o semblante]
Antão: Aumenta o volume.
[Ele aumenta o volume.]
- Jornal –
Zumira: [...] Enquanto eu, mulher batalhadora, tive que me vender pra um bando de jovens tarados e um velho viciado [...].
- Jornal –
[Antônio coloca a TV no mudo e ri alto]
Antônio: Velho viciado? Essa é nova hein?! Ô coroa tá pegando geral!
Antão: Cala a boca cara...
[Ele fica pensativo]
Antônio: Eu já vi de tudo: macacão, titio tarado, Antão bengala, ursão peludo, pau-de-fumo, agora velho viciado? [Ele dá uma gargalhada alta] Essa foi de tirar o chapéu!
Antão: Pega tua arma e a chave do carro, vou trocar de roupa.
Antônio: Aonde vamos?
Antão: Temos um serviço pra fazer com essa mãe da África! De hoje ela não me escapa!

Circo La Mustafá – Noite.
[A chuva e as tempestades são frequentes e fortes. Felipe divide uma rede com o irmão e estão cobertos por um fino lençol, outras pessoas do circo dividem o mesmo local que eles, dormindo na mesma rede. Felipe se levanta, senta no chão e encosta a cabeça na parede de madeira, pensativo, olhando a lua cheia por uma fresta.  Uma lágrima rola sob sua face]

- Flashback –
Felipe: Eu sei... Amanhã já não temos o que comer... A mãe fez os últimos dois ovos ontem.
Bruno: O homem que compra cobre não passou faz duas semanas.
Felipe: Vamos ter que trabalhar, senão “maínha” vai acabar morrendo.
Bruno: Seremos unidos Felipe, e sempre ajudaremos a mãe.
Felipe: Sempre. E nada, nem ninguém vai nos separar.
- Flashback –

[Felipe se assusta com o barulho de algo caindo. Tudo fica calmo novamente. Ele então percebe que alguém está acordado, não sabe quem, com a sensação de quem alguém o está vigiando. Ele então sussurra.]
Felipe: Tem alguém aí?
[Nada se movimenta. Alguém, que estava atrás dele coloca a mão fortemente sobre seu ombro. Ele se assusta]



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